Um percurso D U R Í S S I M O de 80K abriu a série de provas do XTerra patrocinadas pela The North Face no Brasil este ano.
E lá fui eu para minha quarta Ultramaratona em 2012.
Mas desta vez a pancada foi forte...
Para abrir o calendário do XTerra Series Brazil Tour nada melhor do que uma multi competição.
A prova realizada nos dias 21 e 22 de abril em Ilhabela / SP, num cenário espetacular totalmente preservado contou com as seguintes provas:
- XTerra Triathlon
- XTerra Swim Challenge 1,5K
- XTerra Swim Challenge 3K
- XTerra Mini Corrida Kids
- XTerra Night Run 9K
- XTerra Night Run 18K
- XTerra Endurance 50K
- XTerra Endurance 80K
Como de praxe escolhia a prova mais longa de todas!
Ano passado a The North Face patrocinou o XTerra Brasil e já incluiu em Ilhabela e Mangaratiba as provas ENDURANCE 50K, eu fiz as duas - MUITO SHOW!
Este ano temos novamente estes duas provas, acrescida também em Tiradentes e a MEGA novidade ficou logo de cara para Ilhabela, que além dos 50K tinha 80K.
E desde cedo foi um sucesso: cerca de 150 atletas para os 50K e 90 atletas para os 80K.
Novamente sob apoio da The North Face Brasil peguei a balsa para Ilhabela com minha esposa - Nilce (que correu o XTerra Night Run 18K) e meu filho - Filipe (que correu o XTerra Mini Corrida Kids).
Desta vez me acompanhando na viagem estiveram minha mãe - Wanda e meu Ultra amigo Jorge Cerqueira.
Na balsa - com Filipe e Jorge
Esposa e mãe - Nilce e Wanda - na Balsa
Na sexta-feira por volta das 18h chegamos ao local de entrega de kits e congresso técnico, após isto fomos para nossos chalés.
No dia seguinte uma rápida passeada pela ilha e pelo XTerra Village, sem muitos gastos de energia, pois a largada dos 80K era às 13h15min.
XTerra Village - com muitas variedades
Stand Barcellos Sports
Mega Stand The North Face
Aproveitamos para encontrar MUITOS amigos - Ultramaratonistas, Patrocinadores etc, muito legal!
Raphaela Guaracho - Marketing TNF
Bernardo Fonseca - X3M
A volta ia ser grande nesta ilha
Agora veja o que me esperava nos 80K de percurso:
Percurso e altimetria Endurance 80K
Largada e chegada na praia do Perequê, com uma imensa volta em direção ao lado sul da ilha. Porém se correr 80Km já é difícil, neste percurso tudo se tornaria pior, muita mata, pedras, lama, rios, cachoeiras, terrenos de difícil transposição e a escuridão da noite, tudo isto era a magia destes 80K. Sem falar na altimetria destruidora, com mais de 3.700m de ganho de elevação. Comparando com o Morro do corcovado que ganha-se pouco mais de 700m para chegar ao Cristo Redentor, este desnível é mais de 5 vezes esta subida!
Pensando no que tinha pela frente...
Ano passado, nesta mesma ilha concluí o percurso de 50K em 5h30min, porém estes 80K prometiam ser pelo menos o DOBRO de mais difícil do que aqueles.
Ainda bem que o sol não saiu, só um pouco de mormaço, pois com a largada às 13h15min imaginem se estivesse um sol forte.
Concentração nos momentos finais...
Contagem regressiva com um X (XTerra) na cabeça
E lá vamos nós!!!
A largada foi na areia fofa da praia do Perequê - uns 100 metros - logo à frente já entrávamos nas ruas transversais que nos levariam às trilhas.
Rumo às trilhas
Já larguei em um ritmo forte - cerca de 4min20seg/Km - iniciamos a subida para a estrada que leva à Praia de Castelhanos e entramos numa trilha em direção ao caminho para a Praia do Bonete. Muita beleza nesta parte porém dificuldade também, subidas fortes e descidas igualmente duras até um pouco mais da marca de 20Km.
Os postos de hidratação eram espaçados entre 5 e 10Km, por isto fui com meu cinto de hidratação e ia o abastecendo sempre que podia nestes postos ou qualquer fonte de captação de água do caminho.
Uma coisa inusitada acabou acontecendo comigo. Larguei com a camiseta preta de mangas longas do kit, porém senti muito calor com a mesma e estava perdendo muito suor por conta disto, aí me lembrei das palavras do Bernardo Fonseca no congresso técnico, que disse que no XTerra não é obrigatório correr de camiseta, então tirei a torci e fiquei impressionado com a quantidade de suor que saiu dele, enrolei e mesma e enrolei na cintura.
Pelas informações dos staffs eu era o 15º colocado, mas não me importei muito com isto, pois sabia que o pior estava por vir.
Entramos numa parte asfaltada da Ilha sentido sul, com uns 15Km de extensão, nesta parte não via mais ninguém, somente esporadicamente as fitas indicando que estava no caminho certo, porém apesar de ser de asfalto esta parte era um verdadeiro tobogã, com incontáveis subidas e descidas, deixando a mesma difícil.
Por volta do Km 38 entramos na trilha de acesso à praia de Bonete, passava-se das 17h e com o tempo fechado já tive que acender minha lanterna, pois além da escuridão que tomava conta da trilha este trecho, a meu ver, era o mais perigoso da prova, com o terreno todo pedregoso e escorregadio, várias travessias de rios e cachoeiras e buracos e barrancos sem fim.
Por volta do Km 40, uma cena inusitada, um atleta na trilha totalmente escura e sem lanterna, ele disse que deixara a sua no Special Needs do Km 45 pensando que daria tempo de chegar ainda de dia.
OBS.: A organização da prova disponibilizou dois Special Needs, um no Km 45 e outro no Km 60, que era similar a um guarda-volumes, o atleta deixava uma sacola numerada no local de entrega de kits até 8h da manhã e eles levariam para o local estipulado. Porém desta vez não funcionou bem, verá mais à frente.
Também tinha pensado que iria dar tempo de chegar ao Special Needs ainda claro, porém levei uma lanterna pequena (a do kit) em meu cinto e deixei minha melhor no Km 45.
Alguns metros à frente outra cena grotesca, dois atletas voltando pelo caminho - um que tinha me passado no asfalto no Km 36 - ambos perguntavam se estavam no caminho certo, pois não viam mais marcações na trilha. Mentalmente concordei com eles, pois realmente estava bem sinistro, porém na hora falei para irem em frente que estávamos certos - esperava que sim! Este que tinha me passado antes seguiu rapidamente em frente e o outro, que também estava sem lanterna (que sinistro) ficou dependendo de minha luz, fiquei uns minutos com eles dois, tendo até que parar para o esperar, porém seu ritmo estava fraco demais e falei que iria em frente.
Após mais umas travessias em rios encontro aquele mesmo atleta que tinha me passado e voltado no caminho, desta vez amparado por dois staffs. Tinha torcido gravemente o tornozelo e desistiria da prova, assim como depois vim a saber que aconteceu com muitos atletas que se machucaram.
No Km 43 foi minha vez, uma imensa topada me fez sentir que tinha quebrado meu dedão do pé direito, muita dor mesmo. Mas segui em frente.
Pouco à frente um staff me pergunta se eu era o último da prova, eu disse então que tinha pelo menos uns 70 ou 80 atletas depois de mim. Não sei quem estava pior, se era eu que iria correr o resto todo ou ele que teria que ficar esperando todos.
Depois deste trecho muito duro cheguei ao Km 45 - Special Needs. Tinha sido muito difícil ate aqui e havia 15Kms muito complicados para chegar ao Km 60.
Solicitei minha sacola do Special Needs, já pensando em tirar meu tênis para ver o que tinha acontecido com meu dedão - até então usava o Tênis THE NORTH FACE DOUBLE TRACK - ao me entregarem minha sacola percebi que não tinha meus tênis reserva que tinha deixado, assim que vi escrito na sacola Km 60, então disse que a mesma estava errada e que teria que ser a do Km 45, ao procurarem acharam a do Km 45, então como vi que não teria mas nada para frente, abasteci meu cinto com tudo que tinha direito para chegar ao fim. Depois fiquei sabendo que teve atleta que nem achou sua sacola.
Tirei o tênis e vi que o estrago tinha sido toda na unha do dedão e como já estava sem tênis e meia e os mesmos estavam todos ensopados de lama e areia da praia aproveitei para trocá-los pelo ASICS FUJI ES, neste movimento de troca de tênis começaram a se manifestar as primeiras câimbras da prova. Tratei logo de sair de lá e seguir em frente.
A saída do Bonete era por meio de uns becos de residências, numa delas ouvi um latido forte ao meu lado e vi entre a cerca um enorme cachorro Pastor Alemão, porém em seguida vi no quintal da casa várias pessoas, que me deu certo alívio, porém estas estavam bebendo e falando em voz alta e ficaram falando coisa sem nexo para mim, de repente escuto uma voz falando: "corre senão o cachorro te pega" e quando vejo aquele mesmo cachorro já estava na trilha atrás de mim, fui correndo rapidamente a frente se ter o que fazer, mas logo depois uma voz chamou o cachorro de volta. Ufa! Que brincadeira de mau gosto a esta hora da noite.
Após isto vou seguindo a frente num trecho difícil de calçamento de pedras escorregadias, uma subida bem forte e descida pior ainda.
Assim descendo por volta do Km 50 só vejo meus pés subirem e caio bem forte no chão, mas não paro logo, ainda escorrego por vários metros pedras abaixo, um susto sem maiores problemas, que que podia ter me custado a prova. O que acabou acontecendo com outro atleta cerca de 500m à frente, que estava sentado esperando resgate.
Em seguida chega-se a parte mais complicada da prova, que nos levaria até a praia de Castelhanos passando pela fazenda Indaiatuba - um trecho de floresta fechadíssima com mata densa e as subidas mais penosas da prova, agravadas nesta hora por um forte temporal que dificultava tanto a subida quanto a descida, além de prejudicar em muito a visualização do caminho, porém nesta parte colocaram dezenas de cubos luminosos que indicavam o caminho certo. Por várias vezes me sentia subindo uma torre indo para ponta luminosa de um para-raios!
Parecia que ia chegar nos 80 mais não chegava os 60 de tão duro esta parte, e neste trecho sofri bastante com as câimbras, como as subida eram muito íngremes em não conseguia levantar totalmente as pernas que eram tão necessárias para pular incontáveis árvores caídas, em muitas preferi passar rastejando por baixo - ah! e não é que ainda estava sem camisa, agora também era pura adrenalina e resolvi que iria assim até o fim se não sentisse frio.
Neste trecho da fazenda também tive que ficar parado por alguns instantes num trecho complicado para achar o caminho certo, neste instante chegou em mim a amiga Ultramaratonista Rosália Guarichi (vencedora de muitas Ultramaratonas) e que estava em 4º lugar, ficamos então eu e ela algum tempo para achar o caminho certo, depois corremos mais um pouco juntos e ela seguiu em frente, pois eu não conseguia subir mais rápido devido às câimbras.
Por fim cheguei ao Km 60 - somente um posto de apoio, sem o Special Needs previsto, neste ponto já fiquei um pouco mais tranquilo, pois conhecia os último 20 Km, que eram o mesmo dos 50K do ano passado (e deste ano também). Fui informado que era o 9º lugar, achei muito bom e decidi que iria forçar o ritmo para ficar entre os 10.
No entanto apesar de conhecido este trecho não tinha nada de fácil, também era um dos mais difíceis da prova, com uma subida de 8Km direto, porém nesta subida consegui correr até bem em bastantes trechos, ajudo bem já conhecer.
Ao chegar na marca de 70K tendo praticamente somente descida e plano pela frente a situação já estava sob controle - se é que se pode dizer isto nestas condições - assim o staff me informa que recebera por rádio a informação que eu era o último atleta dos 80K e que o restante desistira ou tinha sido cortado pelo limite de tempo (7h no Km 45 e 11h no Km 60) nos controles anteriores, então como já estava bem degradado comecei a longa descida mantendo um ritmo médio de 7min15seg/Km que era progredindo cada metro passo a passo pelas dores, câimbras e agora também pela densa neblina que acabara de se instalar em volta de mim, tive que acender minhas duas lanternas e não conseguia ver assim mesmo a mais de 2m de distância.
Porém no Km 74 vejo uma luz se aproximar, era outro atleta que chegava e vindo forte - a informação do staff estava novamente errada - e ele dizia que tinha mais atletas vindo, então tratamos de nos incentivar um ao outro para chegarmos entre os 10 e fomos descendo cada vez mais forte. Consegui ir com ele até o Km 77.
Neste ponto encontro novamente a Rosália, incentivo ela a vir comigo mas ela não consegue então sigo em frente rumo à praia do Perequê. Este trecho final é bem cruel, pois o atleta já está todo detonado da prova inteira, acabou de fazer uma descida duríssima e agora tem um longo trecho plano de calçamento até a chegada.
Em fim cheguei ao Km 80! Concluí a prova em 10º Lugar com o tempo de 12h38min00seg. Sem dúvidas uma das provas mais difíceis que já fiz.
Minha esposa e vários amigos aguardavam na chegada, foi muito bom ter concluído com êxito esta prova. Ainda fiz questão de aguardar também uns minutos a Rosália chegar, ela merecia.
Eu e Rosália na chegada
Agora bastava descansar...
Fiquei feliz também em saber o sucesso de minha esposa em concluir sua prova mais longa até agora - os 18K - e estes também eram bem difíceis.
No dia seguinte estávamos lá prontos para a Corridinha de Filipe.
Largada de Filipe - Nilce dá instruções
E lá vai ele!
Mais uma medalha do XTerra Ilha para Filipe
O Kit da prova foi de excelente qualidade, contendo entre outras coisas um camiseta de poliamida manga longa e lanterna de cabeça.
Camiseta e Número dos 80K
Costas da camiseta
A medalha da prova também foi muito bonita - com formato similar ao mapa de Ilhabela.
Medalha SURVIVOR 80K
Verso da medalha
Novamente sob apoio da THE NORTH FACE recebi vários equipamentos que irão me ajudar no desempenho de treinos e provas, segue:
1 - Tênis SENTINEL BOA TNF
(ajuste com cabo de aço e catraca no calcanhar)
2 - Jaqueta SWIFT FLIGHT SERIES TNF
3 - Camiseta VAPOR WICK FLIGHT SERIES TNF
4 - Calça RUNNING PANT FLIGHT SERIES TNF
5 - Bermuda AGILITY FLIGHT SERIES TNF
Estes e mais centenas de produtos The North Face, todos de excelentes qualidade podem ser encontrados nos seguintes endereços:
Shopping Leblon - Rio de Janeiro
Av. Afrânio de Melo Franco, 2232 - Tel.: (21) 3138-8229
Morumbi Shopping - São Paulo
Av. Roque Petroni Junior, 1089 - Tel.: (11) 5181-6856
Shopping Iguatemi - São Paulo
Av. Brig. Faria Lima, 2232 - Tel.: (11) 3032-5211
Park Shopping Barigui - Curitiba
Rua Prof. Viriato Parigot de Souza, 600 - Tel.: (41) 3285-6958
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Até a próxima...
6 comentários:
Caro Marcelino,
Parabéns, 80 k, ainda em um X Terra, é muito duro mesmo.
Vai fazer Maresias Bertioga ? Caso positivo nos encontraremos então !
Abraço.
Teddy.
---------\\\\|/---------
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Caro amigo Marcelino realmente so quem esteve em Ilha Bela pode ver o quanto ela é bonita e cruel dentro da mata para quem correu realmente foi hot, pois esta prova ficou entalada na minha garganta, foi pior do que correr 24 horas e se ano que vem tiver de novo com certeza farei de tudo para ir lá e terminar classificado...Agora os trechos de pedras e a fazenda indaiatuba foi o pior trecho mas ano que vem damos o troco...Agora essa do Pastor alemao eu tive quer rir ainda bem que ele nao te atacou e quando passamos por lá nao vi o cachorro graças a Deus...Vc esqueceu de citar no seu relato sobre a neblina que foi hot tambem!!! Show de bola este tÊnis que vc ganhou com o cadarço de aço....
Parabéns pelo rico e detalhado vc é o cara e que venham novos desafios para nós corremos.
Um abraço,
Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com
Parabens Marcelino, na proxima vez, leva um osso pros cachorros, esse cinto sempre cabe mais um. parabens pela prova.
Parabéns Marcelino!
Essa é cascuda mesmo, só pra fera, mandou bem!
Um forte abraço.
Everaldo
Isso que é uma verdadeira prova de "Cachorro Grande"..rs..
Parabéns, Marcelino!
Parabéns Marcelino. Está virando um super humano. Abraço
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