Quem é Marcelino ULTRA?

Quem é Marcelino ULTRA?
- Cristiano Marcelino (36 anos) é Bombeiro Militar, Ultramaratonista, Professor de Educação Física graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestre em Ciências pela UFRJ. Casado com Nilce Marcelino (37 anos) e pai de Filipe Marcelino (9 anos).

sexta-feira, 22 de março de 2013

Vitória e Recorde na Ultra 12h de Macaé


Minha 22ª Ultramaratona foi marcada pela obtenção de Recorde e Vitória no Geral Masculino.
Foram 12 horas ininterruptas de corrida na Ultramaratona 12h de Macaé.




Realizada na orla da Praia de Imbetiba em Macaé / RJ num percurso em linha reta de 400 metros, sendo ida e volta dividida por cones, totalizando 800 metros por volta.
Este evento fez parte do Fest Verão Macaé.
O início foi às 20h do dia 09/03/2013 e término às 8h do dia 10/03/2013.

Esta foi a 2ª edição desta prova. No ano passado a mesma foi realizada no kartódromo do Centro de Convenções também num percurso de 800 metros.
Nesta ocasião, em março do ano passado, obtive meu recorde de 100 Km (10h54min) e finalizei a prova com a distância de 105,618 Km, obtendo a 5ª Colocação Geral Masculino.

Para este ano a pretensão era (em ordem de progressão, se possível):
* Completar as 12 horas sem lesionar - vinha sentindo umas dores musculares e não queria arriscar, pois tinha uma prova importantíssima depois de 1 mês: Patagonia Run 100 K (Ultramaratona de montanhas na Argentina).
* Melhorar (mesmo que pouco) a minha marca de 100 Km.
* Melhorar (mesmo que pouco) a minha marca de 12 horas.
Sim! Esta eram minhas verdadeiras pretensões para esta prova.

Ao garantir minha participação na prova a Organização providenciou uma divulgação via Facebook de minha participação na prova, com a imagem abaixo, que depois foi entregue impressa no dia da prova.


Divulgação de minha participação via Facebook


Fui para Macaé de carro acompanhado de minha esposa Nilce, meu filho Filipe e minha mãe Wanda para me darem apoio. Chegamos ao local da prova por volta das 15h. Já montamos nossa barraca de apoio e deitei um pouco para descansar - não consegui dormir, pois estava muito quente, mas serviu para descansar as costas.

Às 19h foi realizado o Congresso Técnico num restaurante no local da prova. Lá já pude perceber que a prova seria muito concorrida, com grandes Ultramaratonistas conhecidos na disputa, porém para mim isto não importava, pois tinha as minhas metas a serem cumpridas, que só dependiam de mim, do tempo e da distância.

O Kit da prova, além do chip de cronometragem e número de peito foi composto de uma camiseta de poliamida e uma sacola esportiva, muito bonitos por sinal.


Camiseta e Sacola Esportiva do Kit


Após o Congresso Técnico fomos para a área da prova para os últimos ajustes esperando a largada, tínhamos uma noite quente pela frente e a paisagem era muito bela. O vento estava fraco, sendo à favor num sentido e contra no outro.


Pronto para a largada


Às 20h foi dada a largada e já pude ver vários atletas saindo bem forte. Uns eu sabia serem os favoritos e que estavam no seu ritmo, outros era de se esperar a quebra horas à frente.


A largada para as 12 horas


A primeira hora inteira de prova acabei correndo ao lado do amigo Márcio Villar. Fomos conversando o tempo todo e mantendo um ritmo bom, porém achava que ainda estava forte.
Ao término desta primeira hora tínhamos percorrido 15 voltas = 12 Km, que dava um Pace de 5'/Km.
Mesmo assim os líderes da prova já nos tinham dado 2 voltas = 1,6 Km, uma boa vantagem.
Falei então para o Márcio Villar que eu tinha meus objetivos e que iria reduzir o ritmo um pouco, então ele seguiu em frente enquanto eu diminuía o ritmo para cerca de 5'15"/Km.


A 1ª hora junto com o Márcio Villar


A cada 1 hora de prova a cronometragem divulgava a parcial com colocação e número de voltas. Nesta 1ª parcial eu estava em 6º Lugar Geral Masculino.

Fui seguindo a minha prova e os líderes continuavam a me passar e com a minha diminuição de ritmo até o Márcio Villar me deu volta.
Na 2ª parcial eu apareci em 9º Lugar Geral Masculino.
Estava ótimo pela distância que estava percorrendo.

Fiz uma estratégia de suplementação a cada 30 min, composta de BCAA, Endurox etc. Isto ficava com Nilce que estava com o relógio programado e a cada 30 min ao soar o alarme ela me dava o que constava na lista.
Fora isto a Organização da prova disponibilizou uma mesa de hidratação que ficava ao lado da pista e os atletas podiam pegar (água, refrigerante etc) sem parar. Praticamente a cada 1 ou 2 voltas eu pegava algo lá para me manter bem hidratado e, além disto, também tinham em minha barraca Gatorade e Accelerade, que bebia esporadicamente.

Como estava quente e suo bastante, com 2h de prova meus pés já estavam bem molhados, então fiz uma parada bem rápida na barraca (cerca de 2 ou 3 minutos) para trocar os tênis - com chip - meias e camiseta.
Tirei o ASICS GEL-PULSE 3 e coloquei o ASICS GEL-CUMULUS 12.

Não me recordo ao certo a minha colocação das parciais de 3h e 4h, até por que minha intenção não era classificação. Mas sei que foi progressiva, se não me engano na 3ª parcial eu estava em 8º Lugar Geral Masculino e na 4ª parcial em 6º Lugar Geral Masculino.

Com 4h de prova fiz uma nova parada para trocar os tênis, meias e camiseta.
Agora coloquei o ASICS SAROMARACER ST.
Percebi - agora à meia-noite - que vários atletas iam parando para descansar, fazer massagens e a pista ia ficando mais vazia de corredores rápidos. Ao todo tínhamos cerca de 50 atletas na disputa.
Fui seguindo meu ritmo e acabei como consequência  indo melhorando minha colocação.

Acabei também parando para ir ao banheiro químico (#2), que ao longo da prova foram duas vezes. Além disto, fiz umas 6 paradas para urinar. Tudo isto muito rapidamente, sem perder tempo.

Já que ia melhorando a classificação remodelei minha estratégia para no início de cada hora ir mais devagar e ao término da hora ir mais rápido para aparecer melhor na classificação.

O céu já ia mostrando vários raios e acabou vindo um grande temporal.
A minha preocupação era só com os pés.
A chuva forte não durou muito, porém continuava fraca e sem cessar.

O Márcio Villar, que decidiu parar, falou comigo que o pessoal de ponta estava parando ou diminuindo muito e que se eu continuasse assim eu conseguiria ficar entre os 3 no Geral Masculino. Disse para também eu não ir muito forte para que eu aguentasse manter o ritmo.
Porém eu ia mantendo meu ritmo e, para ele não ficar falando toda hora para eu diminuir, quando eu passava em frente à barracas eu diminuía um pouco.

Também comecei então a ver quem era o pessoal que estava à minha frente para saber como iam.
Com 5h de prova e ainda chovendo eu apareci na 5ª parcial como 4º Lugar Geral Masculino.
Com 5h30min de prova, ao cessar a chuva, decidi antecipar a troca de tênis em 30 min para tirar estes que estavam encharcados.
Voltei a usar o ASICS GEL-PULSE 3 que estava somente um pouco úmido, mas coloquei meias secas e também troquei as de compressão (somente pernas) que estavam também muito molhadas e contribuíam para molhar as meias.
Na 6ª parcial eu já estava em 3º Lugar Geral Masculino e os dois da frente estavam muito perto de mim.

Com 6h de prova

Ao marcar os dois primeiros adequei novamente minha estratégia e toda vez que passava por eles (nos dois sentidos) aumentava meu ritmo.
O atleta que estava em 1º era o Ferreirinha (muito conhecido), da Marinha do Brasil, que estava com vários atletas e uma tenda de apoio com técnico, massagistas e outros apetrechos.
Percebi que o técnico da Marinha também estava marcando meu tempo a cada volta e ia informado a diferença ao outro atleta, com isto também decidi aumentar o ritmo todo vez que passava por ele também.
Então nesta hora eu aumentava o ritmo quando passava pelos 2 atletas que estava à minha frente a quando passava pelo técnico da Marinha. Isto somava-se 6 vezes em 800 metros de percurso. E como a distância ia diminuindo o ritmo foi aumentando.

O resultado disto foi que na 7ª parcial eu surgi em 1º Lugar Geral Masculino. O relógio marcava 3 horas da manhã e ainda tinha 5 horas de prova pela frente.

Agora a atenção se voltava para manter o ritmo e os olhos nos adversários. Aos poucos fui vendo que meu ritmo continuava bom e ia abrindo distância dos outros.

Com 8h de prova a 8ª parcial confirmava meu 1º Lugar Geral Masculino e já com uma volta de vantagem do segundo lugar.
Novamente programei a próxima troca de tênis, porém já não tinha mais meias secas, então falei com Nilce para conseguir um para par mim, então ela foi ao carro e pegou o dela e me deu, pois ela estava usando Crocs, voltei a usar o ASICS GEL-CUMULUS 12 que ainda estava um pouco úmido.

Mesmo já estando bastante desgastado e com vontade de parar por uns minutos sentado na cadeira via que os adversários não paravam e mesmo estando num ritmo somente um pouco mais lento que eu sabia que se eu parasse eles me passariam rapidamente, então ia seguindo num jogo mental acirrado que ficava vigiando cada passo dos outros atletas.

A 9ª parcial me indicava no 1º Lugar Geral Masculino e com duas voltas de vantagem do segundo lugar.

Agora a expectativa era para a marca de 100 Km (125 voltas) que se aproximava.
Cheguei a marca dos 100 K com incríveis 9h14min23seg, conseguindo meu novo recorde desta distância e baixando em 1h40min minha antiga marca, obtida nesta mesma prova no ano passado (10h54min).

O Recorde dos 100 K

Agora, chegando às 6h da manhã o dia começava a raiar na orla de Imbetiba. Sabia que esta hora seria crítica, pois sempre nas provas que faço virando a madrugada quando chega neste horário que o sono surge em mim. Porém devido a minha estratégia de suplementação que fiz contendo gels com cafeína aumentando a concentração chegando neste horário o sono não veio, que foi ótimo e pude ir mantendo o ritmo com o raiar do sol.

O raiar do sol na pista das 12 h

A 10ª parcial constava meu nome em 1º Lugar Geral Masculino e com quatro voltas  acima do segundo lugar, vantagem esta obtida pelo ritmo firmado para atingir a marca de 100 K e também pelo desânimo do outros corredores ao raiar do dia.

Com 10 h de prova e na liderança

Nesta horário eu tinha que trocar os tênis, porém sabia que meus outros dois pares estavam mais molhados do que o que eu usava e também não tinha mais meias secas. Pedi a Nilce para conseguir e ela disse que não tinha mais.

Minha reserva de tênis já molhados

Foi então que gritei ao Márcio Villar que me conseguisse um par, pois ela parou de correr e devia ter reservas não usadas. Foi então que ele apareceu com as meias e me deu e fiz a última parada rápida para trocar somente elas. 

Com as meias que o Márcio me emprestou

Foi então que me dei conta que nesta hora quase todas as voltas quando eu passava pelo pódio, que ficava ao lado da pista, eu me pegava olhando para o
1º Lugar e pensando que este era meu e ninguém iria me tirar.

Na última - a 11ª parcial - estava lá eu em 1º Lugar Geral Masculino e com cinco voltas  acima do segundo lugar.

Agora era contagem regressiva da última hora para confirmar a vitória, mesmo assim não reduzi o ritmo.
Faltando 15 min para o término da prova distribuíram a placa para marcar o local que estaríamos ao fim de 12 horas.

As últimas voltas

Com 150 voltas (120 Km) tive que dar uma parada rápida para trocar o chip, pois este estava com a memória cheia.

E com 11h56min encerrei minha participação confirmando o 1º Lugar Geral Masculino com 155 voltas = 124 Km e ainda abrindo 6 voltas (4,8 Km) acima do segundo lugar.

Confirmando e vibrando com a Vitória!


Ainda tive oportunidade de conceder entrevistas para a TV GLOBO e TV BAND.


Entrevista para TV GLOBO

Veja abaixo na íntegra a reportagem da TV GLOBO:

E tenho que agradecer muito a minha família que ficou lá durante às 12 horas me dando apoio para esta vitória.

Eu, Nilce e Filipe

Também tenho que agradecer muito aos 4 atletas que ficaram logo após a mim e estão no pódio:
* 2º Lugar (149 voltas = 119,520 Km): Maurício Francisco
* 3º Lugar (146 voltas = 117,415 Km): Aldenir dos Santos
* 4º Lugar (141 voltas = 112,800 Km): Carlos Ferreira
* 5º Lugar (132 voltas = 106,110 Km): Ricardo Silva
 A disputa foi muito sadia e eles me levaram a forçar muito o ritmo e que eu conseguisse esta excelente marca.

O Pódio completo das 12 h

Também tenho que agradecer aos outros atletas que me apoiaram muito durante as 12 horas, não podendo deixar de citar o Márcio Villar, Jorge Cerqueira, Erick Teixeira, Vera Mota e Adenilson Aprígio. Obrigado mesmo pelo incentivo incondicional.

A premiação

Não posso deixar de lembrar-me de todos os meus apoiadores oficiais – empresários e amigos - que sempre me apoiam em todos os treinos e também são parte desta conquista.

Compartilhando a Vitória!

Além de um troféu grandioso, muito lindo e pesado também ganhei a quantia de R$ 300,00 e também um par de tênis e uma medalha.

A foto oficial
Número usado na prova e medalha

Agradeço a Deus por esta vitória duríssima e a vocês meus leitores por sempre estar comigo em todos os relatos de prova!


Não se esqueça de deixar seu comentário abaixo.
Agora vamos lá rumo aos 100 K da Patagonia Run.
Um grande abraço!













sexta-feira, 8 de março de 2013

EL CRUCE 2013 - EN LOS VOLCANES

Saindo do Chile e cruzando a Cordilheira dos Andes por três vulcões até chegar à Argentina.
Assim foi a 21ª Ultramaratona de meu currículo.
EL CRUCE 2013, com 100 Km em três dias de prova.



Pelo segundo ano consecutivo eu e meu parceiro de prova Marcelo Sampaio (esta corrida é disputada em dupla com os dois atletas o correndo juntos - este ano também contou com a categoria individual) fomos para a Patagônia para disputar o EL CRUCE. Foram cerca de 2.500 atletas de 30 países na disputa.



A logística e tudo o que envolve esta prova é espetacular. São dois acampamentos distintos, nos quais os atletas ficam em barracas disponibilizadas pela Organização, que também provê alimentação e muitos outros serviços aos corredores.



O outro diferencial desta prova é que todo ano ela cruza a Cordilheira dos Andes ligando a Argentina ao Chile (ou ao contrário) por percursos diferentes.

Este ano a largada foi em Pucón - CHILE e a chegada em Junín de los Andes - ARGENTINA.
O percurso foi passando por três vulcões (um em cada dia) proporcionando aos atletas paisagens inesquecíveis e com altíssimo grau de dificuldade no percurso.
A prova (duplas) foi realizada nos dias 07, 08 e 09 de fevereiro.
Chegamos a Pucón no final do dia 05/02.


Chegando a Pucón


A inscrição desta prova é bem cara: US$ 840 por atleta, que inclui toda a logística e suporte da prova e um KIT, que sempre é de qualidade inigualável, veja só abaixo:



Credenciamento EL CRUCE

Pronto para retirada de KIT





Nas três fotos acima pode-se verificar que tudo é muito organizado, temos aí:

* Pulseira personalizada: utilizada para controle dos atletas em vários momentos antes, durante e depois da prova.
* Chip: para ser colocado no tênis para cronometragem eletrônica
* Bandeira: confeccionada com o nome do atleta e para ser usada durante a prova par identificar o país de origem.
* Identificação de bagagem: para ser colocada nas bagagens despachadas entre campings e áreas da prova.
* Cartão fotográfico: tecnologia nova - para ser colocado na parte frontal da mochila que se faz a prova e durante o percurso o atleta ao ser fotografado tem sua foto identificada automaticamente e postada em seu perfil no Facebook.






Nas três fotos acima podemos ver parte do KIT, composto de:

* Caneca térmica: para ser usada nas bebidas quentes nos campings.
* Copo de acrílico: para ser usado nas bebidas frias nos campings.
* Prato de madeira: para ser usado para corte de churrasco nos campings.
* Sal GENSER: sal de uso esportivo para alimentos.
* Protetor solar DERMAGLOS: de excelente qualidade e de uso essencial na prova.
* Pós-sol DERMAGLOS: muito refrescante e boa pedida após um dia inteiro debaixo do sol da Patagônia.
* Barra de cereal 3ARROYOS: saborosíssima e muito nutritiva.
* Jujubas MOGUL: uma opção de fonte de glicose.
* Manta térmica: para ser usada em caso de emergência. Personalizada do EL CRUCE.





Nas três fotos acima temos a camiseta COLUMBIA de uso obrigatório durante os percursos. Ela contém:

* Número da dupla na parte frontal inferior esquerda.
* Nome do atleta na parte inferior das costas.
* Bandeira do país de origem abaixo do nome do atleta.
* Bandeiras dos países participantes da prova nas mangas.







Nas quatro fotos acima podemos ver ainda os seguintes itens do KIT:
* Camisa underwear COLUMBIA: para ser usada por baixo de casaco para aumentar a proteção ao frio.
* Calça underwear COLUMBIA: para ser usada por baixo de outra calça para aumentar a proteção ao frio.
* Camisa primeira pele COLUMBIA: proporciona conforto máximo em temperaturas altas ou baixas.
* Muff EL CRUCE: para proteção ao frio do pescoço, rosto e cabeça.


Feito isto fomos fazer a nossa foto oficial para ser divulgada:



Foto Oficial EL CRUCE 2013 - EN LOS VOLCANES

Assim chegamos ao dia anterior à prova, a qual pudemos conhecer melhor Pucón, uma cidade maravilhosa e linda, cidade de veraneio que estava lotada de chilenos em férias de verão.
Saímos para uma corridinha leve para ver a cidade, que tem como fundo o Vulcão Villarrica, onde também fomos lá (de carro) para conhecer o Centro de Ski.

Nosso hotel - com o Vulcão Villarrica ao fundo

Corridinha por Pucón - passando pelo pórtico de boas vindas da prova

Visita ao Centro de Ski de Pucón

Assim foi nosso preparativo para o primeiro dia de prova. Despachamos nossas malas junto à Organização da prova para que fosse entregue no dia seguinte no Camping 1. De noite fomos ao Congresso Técnico e após comermos fomos descansar. No dia seguinte tínhamos que levantar às 5h30min para irmos pegar o transfer que nos levaria para a largada, pois estávamos no primeiro grupo de largada (foi utilizado como critério o resultado do ano anterior e tempo estimado de conclusão - nesta prova as largadas são divididas por grupos e dentro dos grupos os atletas tem liberdade de largar quando se sentirem à vontade para tal, sendo computado o tempo dos chips).

O primeiro dia de prova já seria bastante duro.
Era o dia do VOLCÁN VILLARRICA, com 31,5 Km de extensão e 840 metros de ascensão acumulada, veja abaixo:

VOLCÁN VILLARRICA
 

A nossa ideia era largar bem na frente de nosso grupo, para não pegarmos muito trânsito na trilha e menos sol no percurso, pois o dia seria muito quente.
No entanto ao chegarmos para pegar o ônibus marcado para às 6h30min já tinha uma fila enorme esperando o que acabou deixando com muita gente à nossa frente.

O ônibus nos deixou no Centro de Ski de Pucón - onde tínhamos estado no dia anterior, mesmo sem saber que a largada seria lá, apesar de desconfiarmos disto. Tínhamos que caminhar subindo por cerca de 2 Km até o pórtico de largada.
A largada foi montada em cima de um tablado, que deixava os atletas no alto à medida que iam passando e registrando a foto oficial da largada - no estilo de grandes rallys de carro.

O início do EL CRUCE 2013

O percurso desde o início foi muito duro, pois além de apresentar um sobe e desce sem fim o terreno era totalmente pedregoso em área de atividade vulcânica que contava também com muita terra fofa.
Íamos sempre contornando o vulcão e seguindo as marcações na trilha.

Contornando o Vulcão Villarrica

Não demorou muito para ver o que muita gente à nossa frente representaria. A trilha era muita estreita e sem muitos pontos de ultrapassagens e muitos atletas que estavam à nossa frente eram bem mais lentos que nós - claro que fomos passados também por vários atletas - e isto nos gerou uma perda de tempo enorme que até me deixou meio atormentado. Pois uma coisa é ir lento nas subidas e mesmo perdendo tempo ir descansando também, porém tinha muitos trechos planos e até de descida que perdíamos muito tempo. Assim todo o tempo eu ia para frente passando por outros atletas e gritando para o Marcelo vir comigo, mas nem sempre ele conseguia, até mesmo porque o risco era grande em ultrapassar os outros. Desde o início vimos vários atletas machucados devido às pedras soltas no percurso.

O que era muito impressionante no percurso era a grande variação de paisagem, a cada centena de metros víamos a paisagem sendo modificada juntamente com o tipo de pedras, terra e vegetação onde passávamos.

Ao passar para o outro lado do vulcão nos deparamos com o sol implacável que nos acompanharia até o final do percurso.

Do outro lado do Vulcão Villarica

Tive que fazer muita força, pois a mochila estava bem pesada e ia puxando o ritmo bem forte, que apesar de saber que estava no limite de Marcelo tinha certeza que seria a coisa certa a fazer para já iniciarmos com um resultado expressivo no primeiro dia.

O que foi unanimidade deste percurso foi a dureza das descidas, pois nas subidas íamos devagar entre as pedras mas nas descidas as pedras maltratavam demais os pés. E o final deste percurso era de 13 Km de duras descidas.

As duras descidas

E assim conseguimos chegar ao final do primeiro dia do EL CRUCE 2013, completando o percurso em 4h20min19seg, que nos gerou um resultado de 81º no Geral, que foi um resultado extraordinário e ainda ficamos em 14º na Categoria (Caballeros B - soma de idade de 80 a 100 anos / eu tenho 32 e Marcelo 52). Para termos de comparação nossa, no ano passado obtivemos no primeiro dia a colocação 162º entre 750 duplas. Este ano foram 840 duplas e ficamos em 81º.

A chegada do primeiro dia

Assim pegamos um transfer (cerca de 40 min) para o Camping 1, onde pegamos nossas malas e pudemos almoçar e descansar, cuidar das bolhas dos pés e dores musculares, além de tomar banho no lago e também - acho que o mais importante - interagir com os atletas do mundo todo.

O Camping 1

À noite foi realizada a reunião técnica, com apresentação do vídeo do dia e detalhes para o dia seguinte. Continuamos no primeiro grupo de largada do dia seguinte. Decidimos então fazer de tudo para largar bem na frente e fomos dormir depois do escurecer, que aconteceu depois das 21h30min.

No segundo dia de prova acordamos às 5h00min para despachar nossas malas - que iam para o Camping 2 - tomar café e pegar o transfer. Para agilizar decidimos primeiro despachar as malas e depois tomar café da manhã - que ocasionou não termos os nossos talheres e termos que nos virar com as mãos - mas que íamos ganhar bastante tempo.
Após o café tivemos que andar ainda no escuro por cerca de 2 Km para pegar o transfer (cerca de 40 min) para a largada.
Chegando na área de largada mais uma caminhada de cerca de 2 Km para o pórtico.

Indo para a largada do segundo dia

Ao chegarmos no pórtico foi ótimo ver que ainda ninguém tinha largado. Ainda tivemos uns 5 minutos até ser dada a largada, que nos deixou na frente com um grupo forte e sem muita gente para nos atrasar como no dia anterior e o início era de estrada larga, que ajudou também.

Neste segundo dia, o mais duro da competição, era o dia do VOLCÁN QUETRUPILLÁN, com 38,3 Km (na verdade acabou sendo 40,4 Km) de extensão e 1.667 metros de ascensão acumulada, veja abaixo:

VOLCÁN QUETRUPILLÁN

Marcelo estava bastante cansado e o início já teria quase 13 Km de subida direto, então decidi já tomar mão de meu bastão (walking stick) para ajudar ele - colocando a ponta na mochila dele, nas costas e empurrando - para somente assim conseguirmos desenvolver bem melhor, mas para tanto era gerado uma força muito grande.

O início do segundo dia - dura e longa subida

Esta longa subida nos levava ao lado do Vulcão Quetrupillán, com seu pico nevado, iniciando por uma densa floresta e depois passando por uma vegetação rasteira e com muitas pedras e terra fofa, que já tínhamos percebido ser característica de terreno perto dos vulcões.

Perto do Vulcão Quetrupillán

Como esperado a paisagem era incrível, com um grande visual do vulcão Villarrica (do dia anterior) e também o vento foi constante que não nos deixou superaquecer no sol muito forte.

Paisagens incríveis no segundo dia

Por vários momentos até parecia que estávamos correndo em outro planeta, pela tão grande diversidade de terreno que passávamos.

Variedade imensa de terrenos

E a subida duríssima não acabava. Todos sentiam a dureza do percurso que não ainda estava em cerca de 30%, tendo muito pela frente.

Interminável subida

Ao término da subida nos deparamos com dois trechos curtos de neve escorregadia, apesar da dificuldade não ser grande foi muito bom lembrar do ano passado e por todo o sufoco que passamos por quase 3 horas na neve. Ainda também pudemos admirar no horizonte o Vulcão Mocho Choshuenco, que passamos no ano anterior.

Trecho de neve

Ao longo do caminho Marcelo sentiu muito o percurso e o peso do ritmo do dia anterior. Em certo ponto do percurso em peguei o bastão dele e prendi e minha mochila, pois ele estava o atrapalhando devido ao cansaço extremo.
Ainda assim a beleza do percurso era magnífica e já podíamos visualizar o Vulcão Lanín, que iríamos passar no dia seguinte.

Já visualizando o Vulcão Lanín

Após muita dificuldade e luta contra o percurso duríssimo chegamos ao ponto que esperávamos - KM 25 - onde teríamos uma longa descida de cerca de 14 Km até a chegada. Neste trecho o Marcelo já ressurgiu e conseguiu se animar e imprimir em bom ritmo, que foi excelente para nós.

A longa descida

O final deste percurso foi bem duro, com descidas muito íngremes que sacrificaram em demasia os pés, já fragilizados do primeiro dia.
Ainda tivemos a notícia - através de staffs - que o percurso não seria de 38,3 Km e sim de 40,4 Km. Porém esta notícia não nos abateu, enquanto passamos muitos atletas que sentiram isto no final.
Ainda acabei tomando uma queda que me rendeu um baita susto e alguns ralados.

E assim conseguimos chegar ao final do segundo dia do EL CRUCE 2013, completando o percurso em 6h38min58seg, que nos gerou um resultado de 88º no Geral e 18º na Categoria

A chegada do segundo dia

Fomos então pegar o transfer (cerca de 15 min) para o Camping 2.
Chegando lá o camping era espetacular, entre as montanhas e com um rio maravilhoso e geladíssimo para tomar banho.

O Camping 2

Seguimos a mesma rotina do dia anterior: banho, almoço, descanso, conversas etc.
À noite a reunião técnica com um espetacular vídeo do dia e depois do escurecer dormir.

No dia seguinte - último de prova - repetimos a mesma rotina de horários para tentar novamente largar na frente. Neste dia a vantagem é que o transfer saia a 100 metros do camping.
Agora voltávamos para o mesmo lugar da chegada do dia anterior para de lá fazer a largada.
Ainda bem escuro desembarcamos junto ao pórtico e aguardamos uns 10 minutos - ainda com bastante frio, na densa floresta - para largar juntos com os primeiros.
A largada aconteceu ainda escuro, mas o trecho inicial era de estrada larga de terra por uns 3 Km.
Quando entramos na trilha já estava clareando.

O último dia de prova era o dia do VOLCÁN LANÍN, com 28,2 Km de extensão e 995 metros de ascensão acumulada, veja abaixo:

VOLCÁN LANÍN

Novamente tínhamos de início cerca de 13 Km de subida direto, em sua maioria em trilhas dentro da floresta, porém tinha ainda muitos trechos de terra bem fofa (parecia que corríamos em cima de uma plantação, mas era terra vulcânica), além de trechos muito pedregosos.

Muita área pedregosa

Após a interminável subida, passando perto do vulcão era chegada a hora de longa descida de cerca de 15 Km para o final da prova.

Descendo para o final da prova.

Tínhamos um grande problema para resolver: íamos passar por duas Aduanas (saindo do Chile / entrando na Argentina) e a Organização forneceu as tarjetas de migração para já levarmos preenchidas e não perdermos muito tempo lá.
Porém as nossas tarjetas que ficaram com Marcelo sumiram (e até agora não sabemos onde foram parar) e corríamos o risco de perder tempo de mais lá.
Para tentar resolver isto ao avistar a placa de 1 Km para Aduana eu deixei o Marcelo para trás e dei um tiro para chegar na Aduana e ver o que dava. Estava com os dois passaportes em minha mochila.
Ao chegar lá percebi que tinha um público grande aplaudindo os corredores, que até então eram poucos que tinham passado por lá. Os militares da Aduana ainda estavam se ajeitando para receber uma quantidade grande de pessoas.
Resolvi então passar por lá gritando e mostrando vibração, vinha com a mochila à frente para pegar os passaportes e a bandeira do Brasil ficava na frente.
Fui gritando: "VAMO! VAMO! VAMO!" Os chilenos e argentinos gritavam assim e o público foi empolgando junto.
Ao chegar na fiscalização já fui falando em voz alta e mostrando muita pressa que eu não tinha tarjeta e já fui abrindo os passaportes na página de carimbo, assim o militar olhou para mim e já carimbou os dois passaportes. Quando Marcelo chegou já podíamos ir direto e ele nem parou. Ufa!

Na Aduana

Dois quilômetros à frente a cena se repetiu da mesma forma na outra Aduana: tiro, grito, passaporte e carimbos.
Agora eram apenas mais 3 Km para o final do EL CRUCE.
Chegava então a hora de Marcelo tomar um baita tombo a cair de cabeça no chão, mas empolgado já foi levantando todo sujo e fomos embora.
Avistamos o pórtico e chegamos com a Bandeira do Brasil em mãos!

Chegamos!

Concluímos este último percurso do EL CRUCE 2013 em 3h44min20seg, que nos gerou um resultado de 46º no Geral e 9º na Categoria

Arrebentamos!

No somatório concluímos o EL CRUCE 2013 com 14h43min37seg, que nos gerou um excelente resultado de 63º no Geral e 11º na Categoria
No ano passado obtivemos no final a 102ª colocação geral e 17ª na categoria, com 750 duplas.
Este ano melhoramos muito obtendo este 65º lugar entre as 840 duplas do mundo todo.

Agora era hora de confraternizar com os amigos. Juntos com o Leonardo e Tiago, eu e Marcelo somos as duplas de Niterói que fizemos o EL CRUCE por dois anos consecutivos!

Os Bi-Finisher consecutivos de Niterói

Pegamos então nosso último transfer (2h30min) para voltar à Pucón.
Tínhamos de passar - agora sem muita pressa - novamente pelas Aduanas. Fiquei surpreso por desta vez não deixarem-nos passar sem as tarjetas. Tivemos que esperar um tempinho até conseguirem outras para nós. Minha tática do grito deu certo!!!

Voltando a Pucón era hora de curtir mais um pouco a cidade e relaxar. Linda cidade e cheia de alertas e placas para prevenção de atividade vulcânica.

Pucón: a cidade vulcânica

Muito felizes voltamos ao Brasil e a Niterói. Vamos esperar para ver se ano que vem vamos para o próximo EL CRUCE!

De quanto isto muitas outras Ultramaratonas já estão previstas...

Agradeço a todos meios apoiadores pela confiança em mim para novamente estar nesta Cordilheira.
Agradeço sobretudo à Deus e minha família pelo dom e compreensão.
E por fim ao meu grande parceiro Marcelo Sampaio, com certeza esta foi mais uma de várias outras aventuras por vim.

Deixe seu comentário abaixo e até a próxima!