100 Km em volta do
Lago Paranoá – Brasília / DF
A cidade escolhida para minha 24ª Ultramaratona foi
a Capital Federal – Brasília.
Uma prova muito difícil. 100 Km de percurso bem
duro, com predominância asfáltica e com muitas subidas.
Isto mesmo, para quem
pensa que Brasília é plana, se engana até ver este percurso.
E o fator mais
complicador: o clima muito seco aliado ao calor e altitude acima dos 1.100m.
Realizada no dia 09 de junho de 2013, esta
Ultramaratona é uma das mais tradicionais do Brasil, sendo esta a sua 10ª
edição.
Uma prova grandiosa, que envolveu 2.500 atletas divididos entre
revezamentos (2, 3, 4, 6 ou 8 atletas) e individuais (100K ou 60K).
Eu escolhi
a maior opção, é claro.
Para esta edição comemorativa o patrocinador da
prova – CAIXA Econômica Federal, ofereceu para a categoria 100K individual um
prêmio em dinheiro de R$ 20.000,00. Sendo R$ 5 mil para o 1º lugar, R$ 3 mil
para o 2º lugar e R$ 2 mil para o 3º lugar, de ambos os sexos. Este fato fez
com que a prova contasse com os melhores Ultramaratonistas do Brasil e alguns
do exterior.
Cheguei à Brasília na manhã anterior à prova e fui
muito bem recebido pelo amigo Elias Lacerda, que deu um apoio essencial para
minha participação na corrida.
Após passear um pouco pela cidade e almoçar fui
retirar meu KIT, realizado no mesmo lugar da largada da prova.
Retirada do KIT
Após a retirada do KIT continuamos um pequeno tour pela Capital Federal, apesar de eu
já ter ido lá algumas vezes, aproveitei para conhecer uns pontos inéditos e
também levar meus amigos para conhecer. Estava acompanhado por Nivaldo Filho e
sua esposa Fabiane Lima, que vieram do RJ comigo para me darem apoio de carro
durante a prova. O Nivaldo já tinha feito apoio comigo na Brazil 135 Ultramarathon enquanto a Fabiane era sua estreia.
Passeando pelo Planalto Central
Após tudo isto fomos arrumar tudo na casa do
Lacerda, onde ficamos, e descansar para o dia seguinte.
Acordei às 3h45min para ajeitar tudo e partirmos
para a prova.
Chegamos ao local da largada faltando 15 minutos
para a mesma, ainda bem escuro e já pudemos ver os Ultramaratonistas se
ajeitando para o início da competição. Ao todo éramos 31 homens e 4 mulheres
que buscávamos dar uma volta completa no Lago Paranoá, completando os 100K.
Pronto para a largada dos 100K
Tive apoio do amigo Lacerda para esta prova, que
conseguiu através de algumas parcerias uns itens essenciais para a competição.
Boa parte através da Assessoria EVOLUA.
A qual fomos 3 atletas para estes 100 Km individuais.
O apoio essencial da EVOLUA
Como disse anteriormente, este prova não é nada
plana, apesar de não se ter grandes e íngremes subidas estamos o tempo todo
subindo ou descendo as pequenas e médias elevações no percurso. Vejam só abaixo
a altimetria completa da prova:
Altimetria da Volta do Lago 100K
Os 100 Km são divididos em 14 trechos, variando de
3,72 Km a 10,97 Km, onde em cada ponto era montado uma grande estrutura para
transição dos atletas do revezamento.
Peguei um aparelho de rastreamento por GPS
fornecido pela organização e coloquei no bolsa de minha bermuda.
As 5h20min após nos espremermos no canto do Eixão
Sul foi dada a largada para os guerreiros dos 100K.
Como o primeiro trecho era de predominância de
declive fui mais um pouco acelerado do que o ritmo pretendido. O carro não
podia me acompanhar neste início por enquanto, somente a partir do Km 2.
Trecho 1 (9,32K)
No primeiro trecho dos 100K
Completei o Trecho 1 (9,32 Km) - 45min23seg e o
sol já começava a surgir por trás do horizonte indicando um dia bem quente.
Após passar meu chip no tapete de cronometragem segui em frente.
Nos quilômetros seguintes tive que entrar por uma
trilha onde o carro não me acompanharia por 3 Km e já peguei meu cinto de
hidratação. Na verdade fomos pegos de surpresa por esta trilha e o Nivaldo teve
que correr um bom pedaço para me alcançar e me dar o cinto. Este trecho tinha
umas boas ondulações.
Trecho 2 (16,67K)
Finalizei o Trecho 2 (16,67 Km) - 1h20min03seg e
a área de transição ficava dentro da Universidade de Brasília (UnB).
Tão logo ingressei no asfalto e encontrei o carro
de apoio pedi uma substituição de camiseta, pois esta de manga longa já estava
extremamente encharcada e o sol já estava ficando forte. Aproveitei também para
passar uma boa camada protetor solar (usei o MORMAII FPS 50, o melhor
protetor que já usei, excelente).
Trecho 3 (21,30K)
No trecho 3 com o sol já forte
Finalizei o Trecho 3 (21,30 Km) - 1h46min50seg e
tudo corria tudo bem.
O próximo trecho seria bem complicado, com terreno
bem variado e cross country. Acabei
me perdendo num trecho mal sinalizado do percurso, descendo para dentro de uma
propriedade particular e ficando sem saber aonde ia. Chegou logo depois outro
atleta perdido, junto com sua bicicleta de apoio também sem saber aonde iríamos
e ficamos gritando até aparecer alguém da janela da casa e dizer que tínhamos
que voltar e subir outra trilha. Tempo e distância perdidos que me deixou bem
mal humorado.
Trecho 4 (27,23K)
Finalizei o Trecho 4 (27,23 Km) - 2h20min54seg e
ainda estava sentindo o efeito psicológico de ter ficado perdido.
No próximo trecho consegui recuperar o estímulo,
porém agora o calor era aumentado, mas ia seguindo sem me abater, com o apoio
constante do carro neste trecho.
Trecho 5 (36,74K)
Finalizei o Trecho 5 (36,74 Km) - 3h12min07seg, o calor era intenso.
No próximo trecho comecei a sentir muito os efeitos
do clima brasiliense e tive que ceder um pouco o ritmo, aliado também a longa
subida neste ponto da prova.
Mais à frente um novo erro no percurso, um staff me
orientou a sair do asfalto e entrar no canteiro central onde havia uma
estrutura da prova montada. Estranhei por estar perto da próxima transição, mas
segui a orientação e entrei. Vi as grades e segui por elas mas não via o tapete
de cronometragem e todos me olhavam, então gritei perguntando onde eu passava
meu chip, foi então que um atleta que estava lá parado me respondeu: “aqui é a
largada dos 60K, vai embora!”.
Novamente fiquei transtornado pelo erro e tempo
perdido. Voltei ao asfalto e segui.
Cerca de 1 minuto depois foi dada a largada dos 60K
e muitos atletas foram me passando rapidamente. Neste trecho também comecei a
ser ultrapassado pelos atletas do revezamento que largaram mais tarde.
Então chamei o Nivaldo e disse que queria parar no
próximo ponto de ônibus – pois o mesmo era muito bem estruturado, com cobertura
e bancos – assim podia fazer uma troca geral de equipamento.
Trecho 6 (44,66K)
Cheguei então ao ponto de ônibus e tirei os tênis,
usava o ASICS-GEL SAROMARACER, e meias encharcadas de suor, também tirei as
meias de compressão e camiseta. Logo depois peguei uma água bem gelada e joguei
por cima da cabeça que me deu uma boa revigorada, então secando os pés e pernas
coloquei tudo novo, agora com o ASICS-GEL PULSE 3, peguei uma camiseta seca e
com uma boa camada de protetor solar segui meu caminho.
Comecei a perceber que minha urina já estava muito
escura e reduzida, sabendo que era sinais de desidratação, tentava hidratar
muito, porém meu organismo não conseguia absorver o suficiente.
Finalizei o Trecho 6 (44,66 Km) - 4h10min43seg, sentindo as primeiras dores ao urinar.
O próximo trecho foi bem difícil para mim. O clima
já estava terrível e neste ponto ia por uma estrada sem atrativos nenhum que
também era psicologicamente desmotivante.
Um atleta me passou por volta da marca de 50K e
resolvi segui junto com ele e fomos conversando um pouco, falei com ele que
estava com dificuldades por conta do clima. Ele me disse que não tinha
problemas, pois era de Cuiabá – uma cidade com clima similar ao de Brasília.
Aos poucos ele foi indo embora e pensei na hora que esse ia embora e não o
veria mais...
Trecho 7 (53,10K)
Passando a marca de 50K
As dificuldades com a urina só aumentavam e também fiquei
com ânsia de vômito, mas com dificuldades consegui terminar o Trecho 7 (53,10
Km) - 5h08min15seg.
O próximo trecho era de bastante subida e com o
calor aumentado também a dificuldade aumentava, mesmo com a presença do carro
de apoio não ficava menos dolorido fazer este trecho.
Trecho 8 (58,15K)
No Trecho 8 – muito quente
Terminei o Trecho 8 (58,15 Km) - 5h46min41seg,
bem difícil...
O próximo trecho seria bem complicado, além de
subidas duras também tinha um bom trecho de trilha.
Ao iniciar uma longa subida chamei o Nivaldo e
disse que teria que ir ao banheiro. Chegamos a parar numa entrada de
condomínio, mas não conseguimos sucesso no nosso argumento.
Comecei uma longa descida em direção à barragem do
Lago Paranoá, esta descida me deu uma boa animada e apesar de já vir sentindo
uma dor nas costas, que eu já sabia ser dos rins, e de ter tomado neste ponto
um comprimido de Buscopan, vinha
descendo bem já preparado para a longa subida – a mais dura da prova – que
viria a seguir. Porém no final da descida Nivaldo me gritou dizendo que tinha
um banheiro no restaurante que passávamos em frente, então temendo não ter
outra oportunidade tão cedo decidi parar logo.
Após ir ao banheiro aproveitei para lavar o rosto e
braços com água e sabonete e secar (quase um banho), troquei a camiseta também
e passei outra camada de protetor solar, inclusive neste momento tivemos uma
cena hilária: ao sair do banheiro o Nivaldo me deu tudo de uma vez só nas mãos
(camiseta, cinto, viseira, protetor, gel) e fiquei meio enrolado mas dei meu
jeito e deu certo, só faltando passar o protetor solar, então peguei o tubo
aberto virado na posição de sair o protetor e dei na mão do Nivaldo e estendi a
outra mão para ele e falei “aperta aqui” – para ele colocar o protetor em minha
mão, no entanto em vez disto ele APERTOU MINHA MÃO! – Falei para ele, eu que
estou mal correndo e você que está delirando!
Risos a parte segui meu caminho para a grande
subida e apesar de estar mal ainda passava alguns atletas do revezamento.
Trecho 9 (69,12K)
Após a subida peguei meu cinto e entrei na trilha
que também tinha subida, onde fui subindo caminhando e um atleta
Ultramaratonista que estava fazendo revezamento nesta prova ao me passar me
gritou. Falei para ele que não estava bem e estava com problemas devido ao
clima quente e já estava urinando sangue. Ele me falou então: “CUIDADO, é
melhor você parar então, eu sei bem o que é isto, eu só tenho um rim!” – falei que
não desistiria de jeito nenhum e que ele podia seguir que eu já iria atrás.
Após chegar num check-point
na Ermida fiz um pedaço do caminho inverso subindo para terminar este trecho.
Final do Trecho 9 – subindo...
Finalizei o Trecho 9 (69,12 Km) - 7h26min14seg,
agora seriam pouco mais de 30K para a chegada.
O próximo trecho seria agora de predominância com
descida, porém também com trecho de trilha em descida técnica.
Trecho 10 (74,18K)
Antes de entrar na trilha preferi parar novamente
num ponto de ônibus para trocar os tênis novamente, agora colocando o ASICS-GEL
CUMULUS 12, também trocando as meias, meias de compressão e camiseta. Após mais
uma camada de protetor solar e tentando urinar – sem sucesso, só dor – segui em
frente para entrar na trilha que me levaria até a Ponte JK.
Pit Stop no Trecho 10
Finalizei o Trecho 10 (74,18 Km) - 8h05min51seg, a exaustão era grande mas a perseverança também.
O próximo trecho teria agora um relevo bastante
variado e subida forte no final. O sol era muito forte e por muitas vezes
corria quase encostado nos muros das mansões ao lado aproveitando a sombra
gerada.
Trecho 11 (82,11K)
A cada quilômetro percorrido tudo ficava mais
difícil, porém sabia a todo o momento que ia chegar até o fim da prova.
Esporadicamente pegava o papel que tinha no carro
de apoio para ver o que tinha pela frente.
Muito sol no Trecho 11
Verificando o que ainda tinha pela frente
Completei o Trecho 11 (82,11 Km) - 9h15min25seg, o fim (da prova) estava próximo.
O próximo trecho passaria pelo Pontão do Lago Sul e
Ponte Costa e Silva, continuando a ser um percurso difícil, agora bem bonito.
Depois que passei o Pontão entrei numa trilha que
me deixou um bom tempo sem carro.
Trecho 12 (89,19K)
Passando pelo Pontão do Lago Sul – Trecho
12
Finalizei o Trecho 12 (89,19 Km) - 10h11min06seg.
Agora seriam praticamente 10 Km que me separavam da linha de chegada.
Ainda sem carro de apoio e agora quase sem água
parti para o penúltimo, e mais curto, trecho da prova.
Surpreendi-me no Km 90 ao encontrar aquele atleta
de Cuiabá que me passou no Km 50 e pensei de não o ver mais. Ele estava
sentindo muito e andava, acompanhado de um apoio de bicicleta. Ao passar por
ele fiz questão de dar um tapinha de incentivo nas costas dele e falar para ele
continuar pois eram 10 Km para a chegada e que todos estavam sentindo
dificuldades neste momento. Foi bom o ver voltando a correr, porém logo em
seguida voltou a andar.
Trecho 13 (92,91K)
Um quilômetro depois me vi seco, sem uma gota de água,
e tive que pedir água para uma mulher de bicicleta que passava. Ainda bem que
ela tinha uma garrafa com água (morna) dentro da mochila.
Logo depois meu carro me encontrou e pude desfrutar
de um suco gelado.
Terminei o Trecho 13 (92,91 Km) - 10h35min53seg.
Agora era a hora do último e derradeiro trecho.
Porém este último não seria fácil! Era quase todo
subindo...
Trecho 14 (100K)
Para finalizar, um longo retão de quase 5 Km,
apesar do pórtico de chegada estar ali na frente não dava para ver devido a
distância.
Neste fim as duas opções que me restavam eram bem difíceis:
correr me levava a ter fortes cãimbras na panturrilha e andar me levava a ter
fortes dores no joelho. Fiquei alternando os dois meios, mas me adaptei melhor
a corrida com cãimbra.
Sendo assim depois de 11h32min19seg cruzei o
pórtico desta duríssima Ultramaratona!
FINISHER!!!
Fiquei muito feliz de concluir minha 24ª
Ultramaratona!
Feliz pela conquista!
- Medalha 100K -
O resumo dos 100K marcado em meu GPS
Depois da prova já comecei o processo de
recuperação para as próximas Ultras. Fiquei em Brasília até terça-feira de
manhã, retornando ao RJ já bem melhor.
O retorno ao RJ
Só tenho a agradecer a todos que me possibilitaram
estar nesta prova:
- A Deus, que sempre me deu forças para superar
todas as dificuldades do caminho.
- A minha família, que desta vez ficou longe, mas
está sempre comigo e me dá coragem para seguir em frente.
- Ao Nivaldo e Fabiane, que se fizeram presentes e
me apoiaram durante toda a prova, fazendo o melhor que podiam por mim.
- Ao Lacerda, por toda hospitalidade e por tudo que
conseguiu para eu usar na prova.
- Aos meus apoiadores, que sempre confiam em mim!
- Aos meus amigos e leitores, por me acompanharem
sempre, seja no cotidiano ou virtualmente.
Muito obrigado a todos!
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