BR135 - 217Km em montanhas: Finisher em 35h20min
Pelo quarto ano consecutivo voltei à Serra da
Mantiqueira para a Brazil 135 Ultramarathon, desta vez
para minha tão sonhada jornada SOLO.
ATENÇÃO: Antes de
continuar esta leitura informo que o texto abaixo é longo, devido a importância
e extensão da prova (e pré-prova). Este texto visa detalhar a minha
participação nesta Ultramaratona e servir como consulta aberta ao público.
Sendo assim, reserve um bom tempo para desfrutar desta leitura e reviver conosco
esta emoção. Você poderá ler uma parte e retornar aqui quando desejar. Uma
coisa é certa, você não irá se arrepender, faça parte deste caminho...
INTRODUÇÃO
A Brazil 135 Ultramarathon, conhecida
como BR135, é considerada a corrida a pé mais difícil do Brasil, com um
percurso de 135 milhas (217Km) encrustado nas montanhas da Serra da Mantiqueira
entre os estados de São Paulo e Minas Gerais.
Juntamente com a Badwater 135 Ultramarathon
(217Km no deserto do Vale da Morte - Califórnia / EUA) e a Arrowhead 135 Ultramarathon (217Km na neve na fronteira dos EUA e Canadá) a BR135
faz parte da BAD 135 Word Cup, Copa do Mundo de Ultramaratonas em
ambientes extremos, estando cotadas como uma das provas mais difíceis do
planeta.
A BR135 tem apenas cerca de 20 Km planos e os
quase 200 Km restantes acumulam quase 10.000 metros de desnível positivo
acumulado (como pode ser observado na altimetria acima). Somado a isto o
percurso é de mais de 90% em estradas de terra com muitos trechos de pedras
soltas e em pleno verão brasileiro as condições climáticas só dificultam a
tarefa dos atletas de percorrerem os 217Km em menos de 60h, que é o limite
oficial da prova.
A prova é realizada anualmente no trecho de maior
dificuldade do mais conhecido caminho de peregrinação do Brasil, chamado Caminho da Fé.
Por três anos consecutivos fui parte da equipe de
apoio de atletas estrangeiros na BR135, desempenhando a função principal
de pacer:
Em 2011 integrei, juntamente com mais um
morador da cidade da largada e mais um carro, a equipe do atleta Gary Johnson,
do Reino Unido, tendo correndo com ele cerca de 160 Km (alternando
alguns trechos) e finalizamos com um tempo de 41h00min.
Em 2012 integrei a equipe de apoio do
atleta Levi Rizk, dos EUA, juntamente com a namorada dele
norte-americana, mais uma moradora do RJ e um carro, tendo correndo com ele
cerca de 110 Km e finalizamos com um tempo de 40h25min.
Em 2013 integrei uma verdadeira
expedição com a equipe do atleta Mike DeNoma, do Reino Unido, composta de mais
dois moradores do RJ, um de Taiwan, outro do Reino Unido e a
filha dele dos EUA, juntamente com dois carros, tendo correndo com ele
cerca de 110 Km e finalizamos com um tempo de 43h29min. O qual depois também
estive no mesmo ano em Death Valley para fazer o pacer dele na Badwater
135 Ultramarathon.
Aliada ao meu currículo de Ultramaratonas - agora com 29 provas - estes três anos de
participação na BR135 me proporcionaram um profundo conhecimento do
percurso e as estratégias que melhor se encaixam para o atleta poder cumprir
seu objetivo na prova. Assim após três anos de espera fiquei muito feliz ao
chegar novamente em São João da Boa Vista / SP (cidade da largada da prova)
para desta vez colocar meu BIB (número de peito) e alinhar para a
largada oficial da prova.
CAPÍTULO
I
PRÉ-PROVA
Como esta prova exigia, os preparativos se desenrolaram
durantes vários meses antes da Ultramaratona, com uma preparação intensa nos
treinos sob a companhia e amizade dos companheiros da EZK Team (e
vigilância de Ezequiel Morales), o acompanhamento nutricional da PROTREINA Consultoria Nutricional (com uma atenção magnífica de Carla Bogéa),
incontáveis sessões de massoterapia na VALLE Bem Estar (com o
Sandro Valle) e musculação.
Cerca de um mês antes da prova iniciamos a parte material
dos preparativos: personalização dos carros, camisetas e todo equipamento usado
na prova, além de compra de muitas coisas que ainda precisávamos.
Personalização dos materiais para a BR135
Abaixo se pode ver os suplementos que usei durante a
prova, tudo milimetricamente calculado e programado. Esta foi a parte principal
(cerca de 90%) de minha ingestão durante a prova.
Comprimidos utilizados na BR135 - tudo programado
Geles utilizados na BR135 - separados por tempo
Gomas energéticas utilizadas na BR135 - também dentro
da programação
Para fazer minhas bebidas durante a BR135
Minha equipe estava excelente:
* Nilce Marcelino (minha querida esposa e
apoiadora nos treinos, aventuras e de quase todas as Ultramaratonas)
* Filipe Marcelino (meu filho que também sempre
participa dos apoios de quase todas as Ultramaratonas)
* Marcelo Sampaio (parceiro de dois EL CRUCE
[2012 e 2013], apoio na Ultramaratona dos Anjos 235K [2012] e de outras aventuras)
* Rodrigo Sampaio (filho do Marcelo e também parceiro
de treinos e provas menores, agora estreando no mundo das Ultramaratonas)
* Alessandra Cavalcanti (grande amiga e
incentivadora, apoio na Ultramaratona dos Anjos 235K [2012] e de todas as Ultramaratonas
que eu chamar)
* Nivaldo Lima (amigo do quartel, participante
de minha equipe na BR135 [2013] e apoio na Volta do Lago Brasília 100K
[2013])
A nossa disposição tínhamos dois excelentes carros:
* FORD EcoSport 2.0 4WD (meu carro)
* TOYOTA Hilux 4x4 Diesel (pick-up que
Alessandra conseguiu emprestada para usarmos)
Ainda tínhamos uma mountain bike a nossa
disposição, que foi presa no rack de teto de meu carro.
Abaixo as fotos de nossos carros, já personalizados
para a BR135:
CAPÍTULO
II
ATÉ A LINHA DE LARGADA
Como a largada da prova estava marcada para
sexta-feira (17/01) e o pre-race meeting para quinta-feira (16/01), decidimos
sair de Niterói na quarta-feira (15/01) de manhã, para uma viagem de 510 Km até
São João da Boa Vista.
Pit-stop na viagem para a BR135
Após pararmos em um supermercado em Pouso Alegre para
fazermos as últimas compras antes da prova, seguimos o nosso destino e chegamos
no início da noite ao Manezinho’s Palace Hotel onde ficamos por duas
noites antes da largada. Partimos então para o jantar e depois o merecido
descanso.
Jantar na chegada à São João da Boa Vista
O dia seguinte iniciou-se prometendo ser muito agitado.
A primeira atividade foi um treino leve de 30 minutos, para não deixar o corpo
descansar muito e ficar pronto para o dia seguinte. Marcelo e Nivaldo me
acompanharam neste trote leve. Logo em seguida fomos para o café da manhã.
Agora fomos todos juntos para a Sociedade Esportiva
São Joanense, onde estava marcado a entrega de documentos e retirada de kits.
Entrega de documentos e retirada de kit
Além disto tínhamos também outras atividades oficiais
da prova: pesagem, entrevista, foto oficial e retirada do rastreador (me
monitoraria por todo o percurso da prova).
Pesagem oficial pré-prova: 74,0 Kg
Entrevista oficial pré-prova
Retirada o rastreador
Devido ao aniversário de 10 anos da BR135 o nível da prova foi altíssimo e
contou com um número maior de atletas do que de costume. Foram 130 atletas no SOLO (incluindo vários campeões da prova
e os únicos dois bicampeões), sendo que destes 42 foram estrangeiros (18
países), além dos 30 atletas em dupla, 12 atletas em trio e 48 atletas em
quarteto.
Listagem de todos os atletas da BR135 2014
Fotos oficiais
Após estas tarefas oficiais matinais voltamos ao hotel
para vermos em conjunto um compilação de 2h dos vídeos (o original tem 19h) que fizemos na Ultramaratona dos Anjos 235K. Assim pudemos ver e
aprender com nossos erros e acertos para fazer melhor desta vez.
Com a fome já chegando, deixamos o restante do vídeo
para a parte da tarde e voltamos à Sociedade Esportiva para o almoço oferecido
pela Prefeitura, com o pre-race meeting
em seguida.
Pre-race
meeting
Voltando ao hotel era hora de fazer todos os ajustes
finais nos equipamentos e em todos os materiais a serem usados na prova.
Reunimos toda a equipe em meu quarto para deixar todos cientes de onde estaria
tudo e diminuir os problemas durante a prova. Cada um foi ajeitando suas coisas
e no início da noite vimos o restante do vídeo que começamos de manhã e depois
partimos para o jantar, voltando cedo ao hotel para descansar para o dia
seguinte.
Após uma boa noite de sono, acordamos cedo, pois
marcamos para sair do hotel às 7h após o café da manhã.
O hotel fica a cerca de 1 Km do local da largada e assim
que chegamos à Praça Central de São João da Boa Vista já encontramos uma
verdadeira festa de confraternização e alegria entre os Ultracorredores e suas
equipes de apoio.
Chegando na
largada
Após uma brilhante execução do Hino Nacional Brasileiro
com hasteamento do Pavilhão Nacional todos os atletas se reuniram atrás da
faixa de largada aguardando a contagem regressiva oficial.
CAPÍTULO
III
TRECHO 1: São João da Boa Vista – Águas da Prata (19Km)
Pontualmente segundos antes das 8h foi dado o início à
contagem regressiva para a largada.
Dada a largada para a BR135 2014
Como estratégia para este trecho, pedi ao
Marcelo para me acompanhar de bike no
início do trecho, pois até o KM 6 tínhamos um trecho de asfalto, que seria mais
fácil de acompanhar de bike e daria o
tempo necessário para os carros nos alcançarem, saindo do tumulto inicial da
largada, assim poderia colocar a bike
na caçamba da pick-up e logo depois
Rodrigo entraria correndo comigo do KM 10 ao KM 19, único trecho da prova que é
certo dos carros de apoios não irem pois é uma trilha estreita.
Então saímos correndo, Marcelo foi com o cinto de
hidratação e uma garrafa na bike com
água enquanto eu fui com meus suplementos nos bolsos até para 3h de prova (margem
de segurança para se tivéssemos algum problema).
O trecho até Águas da Prata engana os atletas, pois
apesar de começar fácil, depois do KM 10 inicia-se uma série de subidas duras,
acumulando mais de 700m de desnível positivo, em seguida têm-se uma longa
descida perigosa de pedras soltas, porém este trecho tem uma beleza ímpar, pela
vegetação neste ponto do Caminho da Fé.
Trecho inicial de
asfalto (KM 5)
Fomos seguindo curtindo este início de prova,
conversando e vendo os loucos estilos de vários atletas da prova.
Por volta de 20 minutos depois começou a passar por
nós vários carros de apoio e já fui falando para o Marcelo que logo nossos
carros chegariam, porém acabamos chegando no final do trecho de asfalto e os
nossos carros não chegaram.
Eu dizia que não seria possível eles se perderem logo
na largada, aonde quase todos os carros de apoio vão para o mesmo lugar. Porém
é o que parecia ter acontecido.
A maioria dos carros de apoio param no final deste
trecho de asfalto, já que à frente não tem como passar, porém vários carros
(geralmente 4x4) ainda avançam por mais 4 ou 5 Km e depois retornam para o
mesmo ponto anterior, para fazer o mesmo caminho dos outros carros, para Águas
da Prata, pelo asfalto.
Então falei com Marcelo para seguir por mais uns 3 Km,
assim daria um tempo a mais para os carros chegarem e Rodrigo assumir comigo,
assim eu não ficaria com sede e não precisaria carregar o cinto de hidratação.
Porém não teve jeito, após mais um minutos não deu
mais para Marcelo prosseguir, pois o percurso se tornou muito duro com subidas
íngremes e de pedras soltas. Peguei então o cinto com ele, bebi um pouco de
água da garrafa da bike (já quente) e
segui meu caminho.
Marcelo retornou para aonde os carros de apoios (das
outras equipes) estavam, esperando encontrar nossos carros. Logo em seguida
passou por mim retornando uma pick-up
de uma equipe de revezamento e já falei com eles se poderiam resgatar meu
parceiro à frente, eles afirmaram e seguiram o pegando à frente.
Na entrada da trilha fechada, já com bastante sede por
algo gelado, tive que recorrer à caridade e abordei um carro de apoio de outra
equipe e pedi algo gelado e me deram uma latinha de Coca-cola.
Segui em frente e venci esta primeira montanha obtendo
em seguida o visual da cidade da Águas da Prata, agora seria só descer para
terminar este primeiro trecho. Mesmo tomando muito cuidado com as pedras
soltas (lembrando que no ano passado o Mike torceu o tornozelo nesta descida)
acabei pisando em falso numa pedra mas consegui me estabilizar sem maiores
problemas.
Pouco antes de terminar a trilha, ainda na dúvida se
encontraria minha equipe (mas sem me abalar por isto), avistei o Marcelo
subindo de encontro a mim empurrando a bike.
Ele me disse que não sabia o que tinha acontecido com eles, pois ele foi para
Águas da Prata de carona com outra equipe e acabara de encontrar eles. Mais
tarde vim saber que realmente eles se perderam logo na largada e ao invés de irem nos
encontrarem no KM 6 foram para a próxima cidade. Ainda bem que foi no início da
prova e eu estava preparado para qualquer imprevisto.
Chegando a Águas da Prata (KM 19)
Cheguei ao posto de controle com 2h13min (KM 19) e nem parei, já entrando no próximo trecho.
CAPÍTULO
IV
TRECHO 2: Águas da Prata – Pico do Gavião (18Km / total = 38Km)
Este trecho é um dos que mais assustam os atletas, pois
além de chegar ao cume da montanha mais alta da prova, com 1.663m de altitude,
também soma mais de 800m de desnível positivo acumulado. Somando-se a isto
neste trecho o sol já fica forte e os atletas tem poucas sombras no percurso.
Agora o Rodrigo veio comigo de bike, porém logo viu que a dificuldade seria grande e já a guardou
novamente na pick-up, aposentando-a
oficialmente da prova. Na verdade, nesta edição da BR135 foi excepcionalmente liberado o apoio de bike, mas eu já tinha duvidado da eficácia dela devido a dificuldade
do percurso, a não ser que fosse pilotada por um biker muito experiente, o que acabou sendo comprovado com pouco
mais de 2h de prova.
Seguindo o caminho pedi que me dessem Accelerade, que eu deveria ter tomado no percurso anterior e não
fiz por conta da perda dos carros.
Equipe já trabalhando muito para me ajudar (KM 23)
Neste trecho o revezamento dos nossos pacers se iniciou intensamente e todos
corriam pequenos trechos comigo, visto que meu ritmo era forte (cerca de
5:30min/Km) e eles preferiam ficar no carro.
Aproveitei para começar a ver meus papéis de
estatística e tempos do percurso que elaborei, assim podia ver o que tinha
agora pela frente, além de saber se o que estava fazendo na hora e tinha
acabado de fazer estava dentro da ideia.
Concentrado na corrida e na estratégia em mãos (KM 26)
Chegando ao KM 34, onde se bifurca para a subida final
do Pico do Gavião, alguns carros de atletas não fazem esta subida íngreme,
visto que são 4 Km para subir e depois o mesmo caminho de volta descendo ao ponto anterior, porém insisti que os dois carros nossos subissem
para aproveitarmos o visual ímpar do cume.
Também à caminho do Pico do Gavião, com o aumento da
temperatura ambiente comecei a usar meu borrifador, uma excelente ferramenta
que aprendi na Badwater e se mostrou
MUITO EFICAZ por aqui também. Nivaldo começou a correr comigo nesta subida.
Subindo e com o borrifador em mãos (KM 35)
Neste trecho pude cruzar com alguns atletas mais
rápidos que eu, que já desciam do cume, uns eu não vi mais, mas alguns
outros eu fui passando com o decorrer da prova.
O final da subida do Pico do
Gavião é bem cruel, após um longo trecho de terra vem o derradeiro ataque ao
cume onde os carros sobem berrando em 1ª marcha. Nivaldo acabou também sentiu
muito esta subida e apesar de eu ter falado para ele pegar uma carona ele veio
comigo (depois me disse que acabou ficando quebrado o restante da prova).
Chegando ao final da subida do Pico do Gavião (KM 37)
Por fim cheguei ao topo do Pico do Gavião e conforme
combinei com a equipe eles já me esperavam com um esquema armado para meu
primeiro rápido pit-stop. E foi bem
rápido mesmo, somente o tempo necessário para a troca de meias e bandagens dos
pés. Estava usando meu ASICS Gel-CUMULUS
15 e permaneci com ele, pelo conforto e amortecimento.
Pit-stop rápido no cume do Pico do Gavião (KM 38)
Todos trabalhavam em conjunto neste momento: Nilce
cuidava de meus pés, Filipe me molhava com o borrifador, Marcelo e Rodrigo
cuidavam das roupam (inclusive pedi para lavarem minha camiseta para eu a colocar
de volta), Alessandra tirava fotos e Nivaldo verificava os carros.
Enquanto meus pés iam ficando prontos eu já
aproveitava para, conforme nossa programação, beber uma Coca-cola e comer umas batatas cozidas (que acabei levando descida abaixo
e comendo também).
Enxuguei-me na toalha e rapidamente levantei-me para
seguir montanha abaixo. Levei 2h32min para completar este trecho e o tempo
total oficial de prova era 4h45min (KM
38).
CAPÍTULO
V
TRECHO 3: Pico do Gavião – Andradas (22Km / total = 61Km)
Os 4 Km iniciais são bem duros, com a mesma ladeira
muito íngreme que acabara de subir, mas agora descendo. Depois o trecho se
torna mais fácil pois é de predominância de descidas, com mais de 900m de
desnível negativo acumulado e algumas subidas, com quase 300m de desnível
positivo acumulado.
O início da dura e linda descida do Pico do Gavião (KM
39)
No entanto apesar de muitas descidas o calor foi um
implacável companheiro neste trecho. Alessandra correu comigo boa parte deste
trecho, sempre com o borrifador em mãos.
Longa descida até Andradas (KM 50)
O forte sol me fez colocar em prática outra estratégia
trazida da Badwater, o gelo em volta
do pescoço, que dá um bom alívio no calor.
Faltando 9 Km para a cidade de Andradas decidimos que
meu carro deveria seguir direto pelo asfalto, para providenciar um reparo nele
e o almoço da equipe, enquanto a pick-up
continuaria comigo pela estrada de terra.
Logo depois ultrapassei um dos dois bicampeões da BR135, ele caminhava e parecia ter quebrado
por ter iniciado muito forte. Mais tarde soube também que o outro bicampeão e
atual recordista da prova também desistira. Mas um sinal que a prova é
duríssima e não perdoa os mínimos erros.
Então fui chegando à área urbana de Andradas e após
algumas curvas no asfalto avistei a praça onde se encontrava o posto de
controle, chegando nele após 2h23min de ter saído do cume do Pico do Gavião. O
tempo total oficial de prova era 7h08min
(KM 61).
Novamente preferi não parar e segui em frente para o
próximo trecho.
CAPÍTULO
VI
TRECHO 4: Andradas – Serra dos Limas (15Km / total = 77Km)
Este trecho apesar de ser um pouco mais curto possui
uma serra bem cruel, que com as outras subidas deste trecho somam quase 500m de
desnível positivo acumulado.
Eram quase 4 horas da tarde e o sol não parecia dar
trégua. Eu continuava, desde o início da prova, fazendo minhas ingestões de
suplementos programadas a cada 30min, sempre que meu GPS alertava. O trabalho
de equipe também era incessante e precisava me fornecer bebidas muito geladas.
Também constantemente fazia a reaplicação de protetor solar e continuava com o
borrifador de água e gelo no pescoço.
Sob o sol inclemente no caminho para a Serra dos Limas
(KM 64)
Faltando uns 3 Km para chegar à Pousada Dona Natalina
(onde fica o posto de controle), falei para um dos carros seguir em frente para
agilizar a compra do macarrão que eu jantaria mais tarde.
Lá também tem à disposição dos atletas além de comida,
quarto para descanso e banho.
Nos três anos anteriores os atletas que eu acompanhei utilizaram este serviço e lembro-me bem que já saíamos de lá utilizando os
coletes refletivos (que é de uso obrigatório entre 18h e 6h).
Porém desta vez, como estava muito bem e consciente do
que estava fazendo, preferi seguir sem parar e aproveitar ao máximo a luz solar. O sol ainda estava forte.
Levei 2h09min neste trecho e passei pelo posto de controle
sem parar e o tempo total oficial de prova era 9h17min (KM 77).
CAPÍTULO
VII
TRECHO 5: Serra dos Limas – Barra (6Km / total = 83Km)
Este é o trecho mais curto de toda a prova, o que eu
gosto muito, pois sempre quando entro ou saio de uma cidade sempre tem um
trecho urbano (ou meio urbano) antes e depois, o que acaba motivando um pouco
mais por ver pessoas e lugares diferentes.
Além de ser mais curto também é de predominância de
descidas, só tendo quase 100m de desnível positivo acumulado em uma única
subida que é logo saindo do posto de controle. Ao chegar no topo desta vi meu
amigo Raphael Bonatto, de Curitiba que também estava competindo no SOLO. Ele estava sentado ao lado de seu
carro de apoio junto com a esposa que preparava um macarrão para ele. Então
decidi me juntar a ele e pedi para Nilce montar a cadeira próximo pois queria
trocar os tênis e meias. Enquanto Nilce cuidava de meus pés eu conversava com o
Bonatto que acabou me cedendo um emplasto para colocar na sola de meu pé
esquerdo que estava com dores, pois o meu emplasto tinha sumido pelo nosso
carro. Agora coloquei o ASICS Gel-Fuji Trabuco.
Somente passando o tempo necessário para o cuidado dos
pés levantei e me despedi de meu amigo, seguindo o caminho para Barra.
A descida para Barra (KM 80)
Como esperado a (micro) cidade chegou logo e levei
apenas 49min após ter saído da Serra dos Limas para passar por lá e novamente
não parei seguindo adiante e o tempo total oficial de prova era 10h06min (KM 83).
CAPÍTULO
VIII
TRECHO 6: Barra – Crisólia (15Km / total = 99Km)
Para Crisólia o trecho é bastante diversificado,
contando com boas subidas e descidas na mesma quantidade e somam quase 400m de
desnível positivo acumulado.
Saberia que este seria o último trecho a ser
percorrido com a luz solar e portanto não iria diminuir agora para aproveitar o
dia claro.
Indo para Crisólia no final do primeiro dia (KM 89)
Com o início da noite (mesmo ainda claro) foi notável
a queda de temperatura, mas por enquanto isto era ótimo para mim, somente parei de
usar o borrifador e gelo que já foi o necessário para o equilíbrio térmico.
Neste trecho, cumprindo as regras e alertado por minha
equipe, coloquei meu colete refletivo, assim como todos que corriam comigo
usavam também.
Fiquei muito feliz por chegar à Crisólia ainda com a
luz do dia, isto significava segundo minhas estatísticas, uma melhora de
2h31min do meu melhor tempo registrado nesta cidade como pacer nos outros anos de
BR135.
Conforme programado, já pedi aos carros que se
adiantassem quando faltou 2 Km para à cidade, para que montassem a estrutura
para eu sentar e trocar as meias enquanto comia um macarrão (comprado na Serra
dos Limas) com Coca-cola. Nivaldo
seguiu correndo comigo até a praça central de Crisólia.
Chegando lá sentei e pedi que me cobrissem com uma
manta térmica enquanto os trabalhos eram feitos, assim evitaria que eu perdesse
o calor corporal, importante neste momento que o frio iniciara.
Macarrão com Coca-cola enquanto era feito o cuidados
dos pés (KM 99)
Assim que meus pés ficaram prontos deixei minha
quentinha de lado e voltei ao caminho. Pedi meu corta-vento Kailash para continuar aquecido por mais
uns 5 minutos e depois o retiraria. No entanto acabei o usando até o amanhecer,
devido ao frio que fez de madrugada.
Levei neste trecho um tempo de 2h01min e entrei no
próximo trecho com o tempo total oficial de prova de 12h07min (KM 99).
CAPÍTULO
IX
TRECHO 7: Crisólia – Ouro Fino (7Km / total = 107Km)
Este trecho é bem rápido e conta com apenas algumas
subidas e descidas na mesma proporção que somam quase 200m de desnível positivo
acumulado.
Foi o primeiro trecho noturno, mas não usei lanterna,
pois pedi que um dos carros estivesse sempre atrás de mim iluminando o caminho
enquanto o outro permanecia uns 50 metros à frente, assim eu podia ter uma
visão mais ampla do caminho para ver o que teria de imediato pela frente e
decidir o que fazia (corria mais forte, corria mais lento ou caminhava) e ainda
também pedi que no trecho noturno sempre algum pacer estivesse comigo e com uma lanterna para algum trecho mais
complicado.
Já de noite rumo à Ouro Fino (KM 103)
Rapidamente chegamos à rodovia que temos que
atravessar para dar acesso à Ouro Fino onde podemos ver o conhecido monumento
da entrada da cidade.
Entrando em Ouro Fino (KM 106)
Após uma última subida íngreme, já dentro da cidade
chegamos à praça central com a belíssima Igreja ao fundo que marca o
final deste trecho.
Levei neste trecho um tempo de 1h03min e entrei no
próximo trecho sem parar com o tempo total oficial de prova de 13h10min (KM 107).
CAPÍTULO
X
TRECHO 8: Ouro Fino – Inconfidentes (9Km / total = 116Km)
Mais um trecho rápido e com mais descidas que subidas,
onde as subidas somam cerca de 100m de desnível positivo acumulado.
Uns 2 Km à frente decidi parar rapidamente para trocar
novamente os tênis e meias. Da mesma forma anterior a equipe montou a cadeira e
sentei com Nilce cuidando de meus pés. Coloquei agora o THE NORTH FACE Hayasa, que deixaria meus pés um pouco mais leves e
confortáveis. Segui em frente.
O diferente deste trecho, e que acaba confundindo
muitos atletas (ainda bem que eu não, pois lembrei disto dos outros anos) é que
o posto de controle não é no centro da cidade e sim depois. O atleta passa por
um boulevard bem movimentado nesta
hora (22:20) com os bares cheios e os frequentadores sempre interagem com os
atletas, passa-se a igreja e tem que sair do centro até a rodovia onde
uns 2 Km à frente se encontra um posto de combustível com o posto de controle.
Chegando a Inconfidentes (KM 114)
Ao avistar o posto de combustível já falei com minha
equipe que não iria parar e que eles fossem ver para avisar aos fiscais que eu
estava passando.
Tudo estava em perfeito estado e controlado. Levei
neste trecho um tempo de 1h24min e com o tempo total oficial de prova de 14h34min (KM 116).
CAPÍTULO
XI
TRECHO 9: Inconfidentes – Borda da Mata (21Km / total = 137Km)
Com a experiência de quatro anos na BR135 eu tenho certeza que agora é
chegada a parte mais difícil do percurso.
São 100 Km divididos em cinco trechos bem difíceis (e
longos) neste fim de prova. Tenho certeza em afirmar que se aqui fosse uma
prova de 100 Km neste trecho final da BR135
seria uma das mais difíceis do mundo.
Este trecho noturno me reservava muitas subidas e
descidas duras somando mais que 400m de desnível positivo acumulado.
Seguindo pela noite até Borda da Mata (KM 122)
Eu continuava minha tática de corrida nas maiorias dos
trechos e caminhada rápida onde não corria, conseguindo evoluir rapidamente
pelo Caminho da Fé ajudado por minha equipe de apoio, sempre me lembrando dos
suplementos a cada 30min, fornecendo bebidas geladas e iluminando o caminho.
Lembro-me que das outras três vezes na BR135 chegávamos à praça central de
Borda da Mata sempre de manhã cedo e aproveitávamos a grande movimentação em
frente à Igreja e também a padaria para tomar um café da manhã. Porém desta vez
cheguei aqui bem de madrugada (logo após a 1h da manhã) e estava tudo vazio e
deserto, apenas uns carros de apoio.
Novamente não parei e segui logo pelo caminho. Levei
neste duro trecho um tempo de 2h47min (podemos ver a dificuldade do trecho –
até agora foi o trecho de maior tempo, mesmo não diminuindo o ritmo). Entrei no
próximo trecho com o tempo total oficial de prova de 17h21min (KM 137).
CAPÍTULO
XII
TRECHO 10: Borda da Mata – Tocos do Mogi (17Km / total = 153Km)
Mais um duríssimo trecho para maltratar os Ultramaratonistas.
Neste trecho as subidas são arrasadoras e somam quase 800m de desnível positivo
acumulado, além das descidas de pedras soltas de quase mesma quantidade que
para mim, com este tempo de prova, são piores que as subidas.
Cabe-se ressaltar que no Caminho da Fé existe muitas
fontes de água mineral que os atletas e equipe podem usufruir, porém este ano
devido ao forte calor sem chuvas na região os níveis de água estavam baixos, no
entanto ainda tínhamos boas fontes, como podemos ver uma abaixo.
Na fonte de Nossa Senhora chegando à Tocos do Mogi (KM
152)
Assim cheguei à Tocos do Mogi, onde apesar do frio da
madrugada dois atenciosos staffs nos
esperavam. Neste trecho levei um tempo de 3h16min (novamente o maior tempo num
trecho até então. Pode-se ter a ideia da dificuldade do trecho pelo tempo deste
trecho no ano passado: 4h51min).
A diferença entre meu tempo neste ano e nos anos
anteriores era enorme. Iniciei o próximo trecho com o tempo total oficial de
prova de 20h37min (KM 153), enquanto
o melhor tempo que tinha era de 27h00min em 2011 e o pior de 28h36min no ano
passado.
CAPÍTULO
XIII
TRECHO 11: Tocos do Mogi – Estiva (21Km / total = 175Km)
Este trecho que leva até Estiva é o que eu considero o
mais difícil de toda a prova, sem esquecer que os 5 últimos trechos são muito
difíceis, porém somente neste trecho as subidas extremamente
íngremes somam quase 800m de desnível positivo acumulado e as terríveis
descidas maiores ainda que as subidas.
Sai da praça, numa subida muito íngreme, bem animado,
mas sabendo o que teria pela frente. Queria avançar o máximo possível ainda na
escuridão, sabendo que o sono poderia vir a qualquer momento, sobretudo quando
amanhecesse.
Quando estava com 21h45min de prova (5h45min da manhã
do segundo dia) precisei parar para ir ao banheiro (mato para fazer o #2). Então
vendo que o sol surgiria em pouco minutos por trás das montanhas, decidi então
trocar de meias, tênis e bermuda (1ª vez - devido ao excesso de suor já estava
me assando um pouco, pois de dia o suor seca com o calor, mas de noite ele se
acumulava mais). Sabendo que eu precisaria de alguns minutos de sono a qualquer
momento, pedi que colocassem logo o colchonete no chão para eu dormir 15
minutos e deitei. Mas ao invés de apagar logo permaneci acelerado e não
consegui dormir. Fiquei ouvindo o som das aves e prestando atenção se algum
atleta me passaria, pois tinha visto várias lanternas atrás de mim quando eu
estava no topo da última montanha. Mas ninguém me passou e eu não consegui dormir, minha
equipe foi dormir nos carros e Marcelo ficou me vigiando ao meu lado com uma
lanterna. Após 10 minutos falei para ele que iria levantar e seguir em frente,
pois não consegui dormir e que se desse sono deitaria logo à frente. Seguimos e
o sol raiou.
Eu sabia que se deitasse agora não
conseguiria dormir, provavelmente pelo efeito da cafeína dos produtos que
tomei durante a noite, então tentaria me manter em pé até Estiva, onde pararia
com calma.
Chegamos numa descida imensa de pedras soltas e muito
íngreme mesmo. O ritmo era tão lento para descer que assim eu demorava mais que
o dobro de tempo que levava para subir as montanhas anteriores caminhando. Pedi ao Rodrigo
para ir ao meu lado e ficar me vigiando para eu não cair devido ao cansaço. Ele
tomou vários escorregões nas pedras mas eu me mantive firme, estava mais lento,
mas no meu limite.
Na manhã do segundo dia na terrível descida para
Estiva (KM 166)
Com 23 horas de prova tomei meu último preparado de
suplementos. Decidi que iria parar de tomar pois estava com a boca ficando com
sensação de dormência devido a quantidade de coisas doces. Cheguei até a
escovar os dentes caminhando mesmo para ver se melhorava um pouco e também
queria ver se assim relaxava um pouco para dormir. Em certos momentos eu
pensava que simplesmente iria apagar e cair ao chão, devido ao cansaço e sono.
Eu fazia de tudo para chegar à praça central de Estiva, pois sabia que lá
poderia deitar e relaxar por uns minutos.
Quando estávamos perto da cidade pedi aos carros para
adiantarem e montarem o colchonete para eu dormir. Eu pensava que já iria
chegar apagando de sono e pedi que trocassem minhas meias e tênis e que me
acordassem depois de 15 minutos.
Ao chegar à praça desabei no colchonete, porém
novamente não consegui relaxar e agora estava pior ainda, sentia uma
angustiante taquicardia.
Deitado na praça de Estiva (KM 175)
Olhei para o lado e só vi o Nivaldo. Perguntei a ele
onde estava todos, pois precisava de ajuda, ele disse que todos foram à padaria. Pedi para ele sentir minha pulsação que eu pensava estar acima dos 180
batimentos por minuto, ele inicialmente não conseguia sentir nada, mas depois
me disse que achava que estaria por volta de 70. Pedi para ele ir chamar Nilce
e ele foi. Eu só pensava que iria apagar e acordar depois de muito tempo e em
outro lugar. Nilce chegou e também ficou preocupada e demorei certo tempo para
relaxar um pouco, mas não conseguir de maneira nenhuma dormir. Realmente era o
efeito da cafeína, que foi muito útil para me levar com rapidez durante toda a
noite mas agora estava atrapalhando.
Resolvi levantar e ir embora cambaleando, pois já
tinha perdido um tempo precioso aqui e sentia que poderia ficar mais tempo aqui
e não adiantaria nada, só me restava a opção de seguir em frente, mesmo que
muito devagar.
No total levei neste trecho um tempo de 5h20min
(incluindo o tempo parado). Entrei no próximo trecho com o tempo total oficial
de prova de 25h57min (KM 175).
CAPÍTULO
XIV
TRECHO 12: Estiva – Consolação (20Km / total = 195Km)
“Somente” a distância de uma maratona me separava
agora da linha de chegada, no entanto além de eu estar num estado muito ruim,
com sono e sem conseguir dormir, o trajeto até lá era terrivelmente difícil.
Neste trecho agora as subidas somam quase 700m de
desnível positivo acumulado e ainda tinha também muitas decidas doloridas.
A saída de Estiva é característica por descermos,
subirmos e descermos por dentro do centro da cidade e depois atravessarmos uma
rodovia por cima de uma passarela para depois entrar novamente na estrada de
terra.
Entrando novamente na estrada de terra para Consolação
(KM 178)
O sol abrira com força total e bombardeava minha
cabeça que fervia. Após alguns minutos decidi parar e sentar um pouco e beber
com calma um suco, resolvi também voltar a tomar BCAA, para não ficar sem suplemento algum.
Pausa rápida para fugir do sol (KM 180)
Logo voltei ao caminho, mas o sono lutava contra mim,
mesmo correndo eu não me sentia bem, sabia que não seria suficiente deitar no
colchonete para dormir e após mais uns minutos falei com a equipe para parar o
carro numa sombra que eu deitaria dentro do carro no confortável colchão onde
todos dormiam durante a prova. Talvez com um pouco mais de conforto eu
relaxaria.
Então parei e deitei por uns três minutos dentro do
carro mas não adiantava, não desacelerava e pregava os olhos. Falei para Nilce
que não sabia o que fazer mais, teria que me arrastar assim até não sei quando.
Então Nilce disse que havia ali do lado uma fonte d’água e se queria que
jogasse água gelada em minha cabeça. Então eu disse para colocar a cadeira
debaixo da fonte para me molhar sentado. Foi um choque térmico que na hora me
deu uma tremedeira e me despertou. Levantei-me e segui. Disse que teríamos que
fazer isto por várias vezes para me manter na ativa. Estava decidido então que
como eu não conseguiria dormir, que desistiria totalmente disto.
Eu seguia por uns quilômetros e depois parava
novamente, sentava e eles jogavam água de gelo sobre mim. A sensação não era
boa, mas assim poderia continuar rumo à linha de chegada. Também molhava a
toalha na água de gelo e seguia com ela na cabeça, que ajudava a refrescar e
proteger do sol intenso.
Muito calor no segundo dia de prova (KM 187)
Repetimos algumas vezes o parar e jogar água de gelo.
Em outras vezes em sentava no banco carona do carro parado e ficava com a ar
condicionado no máximo por alguns minutos, isto me ajudava a prosseguir por
mais um tempo antes de parar novamente. Cada um da equipe seguia fazendo um
pouco para me motivar.
O apoio fundamental para prosseguir (KM 189)
Mas a luta era minha e eu sabia que não pararia de
lutar até a linha de chegada. Não seria fácil e eu bem sabia das duríssimas
montanhas que ainda tinham pelo caminho e que eu deveria transpor.
Minha luta pessoal contra as montanhas da BR135 (KM 191)
Para chegar à Consolação as dificuldades não cessavam
e a equipe se revezava para cada um ficar um pouco comigo neste duro trecho.
Revezamento da equipe rumo à Consolação (KM 193)
Por fim cheguei à praça central de Consolação, que neste
ano estava fechada por tapumes de obras, mas a típica torcida das casas em
frente continuava presente e apoiando os atletas e equipes, oferecendo café e
outras coisas.
Chegando em Consolação (KM 195)
Deitei ao lado da praça numa sombra e pedi para Nilce
trocar minhas meias e tênis pela última vez. Tirei a camiseta que usara por toda a prova e
resolvi colocar agora minha camiseta da BADWATER
para prosseguir neste último trecho. Levantei-me e segui o caminho. Neste
trecho levei um tempo de 5h23min (o maior da prova até agora). Entrei no
próximo trecho com o tempo total oficial de prova de 31h20min (KM 195).
CAPÍTULO
XV
TRECHO 13: Consolação – Paraisópolis (21Km / total = 217Km)
Mesmo estando muito cansado eu estava muito contente
por sair de Consolação com o sol ainda forte do meio da segunda tarde de prova,
pois nos outros três anos de BR135 eu
saíra de lá já de noite.
Este trecho final não seria em nada mais fácil, mas
pelo contrário, seria MUITO DURO com as subidas cruéis somando cerca de 700m de
desnível positivo acumulado e as descidas ainda serem maiores.
Porém, o que para mim contava mais, era ter
agora a luz solar ao meu favor. Poderia então ver todos os caminhos e
montanhas antes de chegar neles e não teria também nenhum problema de marcação
do percurso. Problemas estes que me atormentaram nos últimos três anos de BR135 e também fizeram muitos atletas se
perderem neste trecho.
Após um pequeno trecho urbano saindo de Consolação
cheguei à rodovia que me levaria uns quilômetros à frente de volta à trilha no
Caminho da Fé. Poucos minutos depois passou por mim meu grande amigo Emerson
Bisan, que este ano estava em dupla com a esposa dele.
Na rodovia saindo de Consolação (KM 198)
O sol continuava muito forte, tanto que pela primeira
vez na prova decidi correr sem camiseta, para ver também se dava um estímulo
diferente.
Apesar de o percurso ser muito difícil ele foi
passando muito rápido, pois eu ia admirando toda a beleza do Caminho da Fé
neste trecho final, relembrando de todas as vezes que já tinha passado por ali.
Momentos finais nas montanhas da Mantiqueira (KM 206)
Porém o percurso da BR135 não dá moleza aos atletas até o fim, as subidas e descidas
duras não cessam nunca e massacram todos que conseguiram chegar até aqui.
Subidas e descidas sem fim... (KM 214)
Faltando apenas 1 Km para a chegada e apesar de já ver
a cidade ao lado o percurso dá uma descida vertiginosa seguida de uma íngreme e
derradeira subida. Só estando lá mesmo para saber o que significa isto no final
de uma prova desta.
CAPÍTULO
XVI
A CHEGADA
Desde minha primeira vez na BR135, quando terminamos durante a segunda noite de prova, fiquei
com vontade de voltar à prova e terminá-la ainda de dia. Nos dois anos
seguintes aconteceu a mesma coisa, terminando a prova de noite. Então esta
vontade de terminar de dia se tornou um sonho. Sonho este que via neste momento
tornar-se realidade.
Saudação aos finishers na praça central de
Paraisópolis (KM 217)
Mesmo já tendo pensado por muitas e muitas vezes,
antes e durante a prova, de como seria esta minha chegada, ela foi bem
diferente.
De longe já podia ouvir os gritos do público presente
e avistei a linha de chegada, que este ano, diferentemente dos outras estava
muito mais bonita, sendo ornamentada com um longo cercado de grades brancas e
uma faixa acima da linha final.
Minha ideia era de chagarmos todos juntos, eu e a
equipe de apoio, porém eles decidiram que não e que eu chegaria somente com
Nilce e Filipe.
A tão sonhada finish line
Tendo levado 5h00min neste último trecho, cruzei a
linha de chegada com o tempo total oficial de 35h20min00seg.
FINISHER: 35h20min00seg
Porém logo em seguida, sem deixar à chegada já
solicitei a toda equipe uma foto oficial de chegada da equipe reunida, com
todos radiantes de alegria.
Foto oficial de chegada de toda a equipe
CAPÍTULO
XVII
NA LINHA DE CHEGADA
Prontamente fomos todos recebidos na linha de chegada
pelo diretor da prova, Comandante Mario Lacerda, sempre muito atencioso com
todos.
Eu e o Comandante Mario Lacerda
Todos nós ficamos muito alegres por esta atenção que
recebemos e pelo clima de confraternização que pairava na linha de chegada.
Felizes pela chegada!
Assim o Comandante solicitou que nos reuníssemos para
a cerimônia de premiação, que é feita sempre quando um atleta chega.
Reunidos para a premiação
Ele nos explicou como funciona a premiação na BR135, que se iniciaria pelas pessoas
mais importantes ali presentes: a equipe de apoio que fez um trabalho duro para
que eu realizasse este sonho.
Então eu fui entregando as medalhas dos componentes da
equipe de apoio, um de cada vez agradecendo pelo que tinham feito.
Aproveito então neste momento do texto para agradecer
formalmente a todos, pela doação e alegria que fizeram que eu cruzasse esta
linha de chegada.
* Filipe
Marcelino: meu filho, que com apenas 6 anos de idade sempre gosta muito
de participar das provas comigo e sempre está disposto a me ajudar de todas as
formas: correndo, borrifando água etc. Obrigado por me acompanhar desde sempre!
Premiação de Filipe Marcelino
* Nilce
Marcelino: minha amada esposa, que sempre me apoia em todas minhas
aventuras e projetos, mesmo sendo absurdamente loucas. Obrigado por trabalhar
em conjunto comigo por muito tempo para que eu pudesse dar o melhor de mim e
conquistar mais este objetivo. Te amo!
Premiação de Nilce Marcelino
* Marcelo
Sampaio: meu grande parceiro, que sempre acreditou em mim e no meu
potencial. Obrigado por se meter nestas muitas maluquices junto comigo, muitas
ainda virão!
Premiação de Marcelo Sampaio
* Alessandra
Cavalcanti: minha grande amiga, que com sua alegria me deixa sempre
mais disposto a enfrentar estes grandes desafios. Obrigado pelo apoio nesta e
nas outras tantas que já foram e as que ainda vão vir e sei que estaremos
juntos!
Premiação de Alessandra Cavalcanti
* Nivaldo
Lima: meu parceiro de trabalho e que cada vez mais vai sendo também as
das aventuras. Obrigado por estar sempre pronto e dar o máximo para melhor me
apoiar!
Premiação de Nivaldo Lima
* Rodrigo
Sampaio: este é meu amigo que foi a revelação do apoio e me ajudou
muito. Obrigado pela força e por ajudar de todas as formas possíveis para que
este caminho fosse percorrido com êxito!
Premiação de Rodrigo Sampaio
Realmente sem esta equipe eu não sei o que teria sido de
mim nesta BR135. Eles se desdobraram
para que tudo acontecesse na perfeita ordem.
My CREW!!!
E agora era chegada a minha vez de ser premiado,
primeiramente pelo Comandante com a camiseta de FINISHER.
Minha premiação com a camiseta de FINISHER!
E em seguida, pela minha ULTRA esposa, com a sonhada
medalha da BRAZIL 135 ULTRAMARATHON – 10th anniversary – 2014.
Minha premiação com a sonhada medalha!
E assim ficamos todos orgulhosos e de medalhas no
peito com a sensação e certeza de dever cumprido e muito bem cumprido!
Todos de medalha no peito e dever cumprido!
Agora minha próxima tarefa era assinar a faixa de
chegada. Ritual este repetido por todos os atletas que cruzam esta meta.
Deixando meu registro de FINISHER!
Assim terminamos nossa jornada na BR135 2014 e ainda com luz solar! Ficamos por mais um tempo pela
chegada e depois fomos para o nosso hotel, que é bem em frente da linha de chegada,
o Hotel Central e da nossa janela podemos ficar conferindo os outros atletas
que iam chegando. E durante a madrugada inteira chegavam atletas e eu ficava
ouvindo os festejos da minha cama e por várias vezes fui à janela vê-los
chegar.
CAPÍTULO
XVIII
O REGRESSO
Após uma noite de sono – apesar de que nem foi de sono
total e sim de ficar revirando de dores pela cama – levantamos, tomamos nosso
café da manhã e fomos para a Missa na Igreja ao lado da linha de chegada. Ainda
podemos confraternizar e ver muitos corredores chegarem.
Agora era hora de dar uma ajeitada nos carros, tirando
o excesso de lixo, para preparar a volta para Niterói.
Os carros de apoio após a prova
Com tudo pronto era hora de nos despedirmos desta
maravilhosa BR135 que certamente
deixará marcas eternas em todos nós.
Despedida da BR135 2014. Prontos para retornar...
CAPÍTULO
XIX
AGRADECIMENTOS
Tenho muitos agradecimentos a fazer por conta da BR135, foram muitas pessoas que me
apoiaram, seja financeiramente, com equipamentos, serviços, trabalho voluntário
e palavras de incentivo.
Em primeiro lugar à Deus que me fez ser forte e
perseverante para seguir por toda esta jornada, começando nos treinamentos e
findando em Paraisópolis e que se Ele assim desejar levaremos isto por muitas
outras provas e projetos.
À minha equipe, que já fiz o agradecimento acima e
tenho muito mesmo a agradecer. Muito obrigado Nilce, Filipe, Marcelo, Rodrigo,
Alessandra e Nivaldo.
Aos que confiaram em mim, como atleta e pessoa, por
terem investido para que eu estivesse nesta BR135
e conseguisse realizar este meu sonho.
ABAIXO SEGUE O
VÍDEO QUE ELABORAMOS DE NOSSA JORNADA NA BRAZIL 135 ULTRAMARATHON 2014.
Um filme de 26 minutos que complementa esta leitura e
ilustra bem tudo que nós passamos para concluir este sonho.
E a grande boa notícia é que por conta do resultado
que obtive na BR135 em conjunto com
meu currículo de Ultramaratonas, consegui a classificação e seleção para a BADWATER ULTRAMARATHON e estarei lá em
julho!